sexta-feira, 3 de julho de 2015

Método surpreendente, visão perfeita

Não são raras as vezes em que nos pegamos orando a Deus, e nessas orações, o “orientamos” sobre a maneira “correta” dele atuar em nossas questões.
Se diz que tudo o que vemos é uma questão de perspectiva. Importa muito a maneira como olhamos. Por exemplo, um grande problema pode ser encarado como uma excelente oportunidade para uma grande vitória.
Um grande problema pode, certamente, evidenciar o tamanho do Deus em que cremos além de revelar nossa confiança nele. Ou seja, vai revelar exatamente nossa visão a respeito desse Deus.

Frequentemente, o Deus para quem “nada é impossível” (Lc 1:37), quer nos ensinar sobre confiar mais, crer mais e a ver com clareza quem e como ele é.

O lugar é Betsaida, “casa de pesca”, cidade natal de Pedro, seu mano André e Filipe. Todos transformados em pescadores de almas pelo nosso Senhor.

Um olhar mais atendo para o relato bíblico tem que terminar em perguntas, silenciosas e introspectivas. Por que Jesus tira o cego da aldeia para tratar com ele? Por que ele cospe nos seus olhos? Por que a cura não aconteceu de uma vez?

Nem bem eles aportam e desembarcam um anônimo é trazido a ele com o pedido, com a súplica para que ele o tocasse.
O Salvador dos sem nome, dos rebentados e sem esperança atende-o prontamente. Ele vai além de simplesmente tocá-lo. 

Mas, Betsaida também era lugar de incredulidade, o que entristecera o Salvador, a ponto de ele ter exclamado “Ai de você, Betsaida!” (Mt 11:21), porque até os gentios teriam se arrependido e se humilhado se tivessem visto o que eles viram.
Por isso, o cego é tirado para fora da aldeia, do povoado. Era necessário sair do ambiente de incredulidade, onde a culpa, a lembrança dos erros, o dedo acusador dos religiosos de que sofria um castigo divino, fruto de seus pecados, tudo isso pesava sobre ele. Jesus o tira do ambiente hostil.

O homem que dependia de favores para viver, era conduzido por vontade alheia, segue com Jesus e põe nele sua confiança. Agora ia, como se, alinhado à Escritura, que profeticamente promete “Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá.” (Sl 37:5).

Num gesto um tanto estranho para nós no século XXI, Jesus cospe-lhe nos olhos.
Talvez, na minha arrogância eu diga, mas saliva? Não tem outra forma?
Talvez num rompante de falta de humildade eu me ache como o general Naamã, que considerou barrentas demais as águas do Jordão, onde o nobre deveria mergulhar, para que fosse curado. (2Reis 5.1-15). 
Eis-nos, de repente, condicionando o agir de Deus. Estabelecendo o como, como se Deus não estivesse no controle.
A saliva do Salvador é aqui a Palavra que procede da sua boca, palavra que transmite luz, palavra que purifica, que limpa. “Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado.” (Jo15:3).
Jesus vai além do toque, ele lava e purifica.

“Vejo os homens ... como árvores que andam.” (Mc. 8:24). Essa resposta também se referia ao que havia ocorrido com os discípulos ainda no barco. Presenciaram os milagres mas não conseguiam enxergar a mensagem espiritual e prática do que Jesus fez.
Sua visão, deles e do cego, ainda era sem foco, não era nítida. Uma visão coisificada da vida. Seus olhos até enxergavam, mas suas mentes estavam enfermas, seus valores ainda estavam distorcidos. 

Nossos dias têm muito disso. O evangelho das coisas, do ter, do possuir, principalmente bens materiais.
Mas a preocupação de Jesus, ao perguntar “se via alguma coisa”, indica também que Deus começou a boa obra e vai termina-la. Indica que ele só sabe fazer o melhor. E só vai dar a obra por completa quando estiver boa. “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;” (Filipenses1:6).

Após o tocá-lo novamente, ele passa a ter uma nova visão do mundo e das pessoas. “Já via longe e distintamente a todos.” (Mc. 8:25). Via longe, distante, visão profética, visão nítida e com discernimento. Não mais a visão sem foco, da mente obtusa e materialista.

Então o que fora cego, e agora via nitidamente, foi devolvido ao seu lar. É a grandeza da obra restauradora de Cristo.
O homem agora é mandado para a sua casa (Mc. 8:26). Para desfrutar novamente dos laços de família, do convívio com os seus.

Me pergunto, de que forma estamos enxergando o mundo? Somos conduzidos por Deus ou pelos homens?  
Onde estão as aldeias que frequentamos? Ela pode ser o bar, a roda de amigos, ou qualquer outro lugar onde gastamos a maior parte do nosso tempo. Longe da família, dos amigos verdadeiros, dos irmãos.
A aldeia, o lugar de incredulidade, não é nosso lugar. Jesus quer nos tomar pela mão e nos tirar de lá.
De que forma estamos administrando nosso tempo: Passamos a maior parte na aldeia, negligenciando os relacionamentos familiares? 
Que nossos corações estejam dispostos e entregues nas mãos de Jesus, somente Ele pode nos conduzir a lugares seguros onde vai operar a bênção e nos curar completamente. 


A Deus toda a glória!

Carlos R. Silva
Inverno 2015

Referências
Bíblia Sagrada Almeida Revista e Corrigida, CPAD
Bíblia de Estudo NVI, Ed. Vida