segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Declaração de dependência

"Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma.
João 15:5

Ole Hallesby, teólogo norueguês, expressou numa única palavra – “desamparo” -  o melhor resumo da atitude de coração que Deus aceita como oração.


“Orar com palavras ou sem palavras, isso não faz diferença nenhuma para Deus, só faz diferença para nós”, acrescenta ele. “Só quem está desamparado pode realmente orar.”

Praticamente desde o nascimento nós desejamos a autoconfiança. Os adultos celebram o fato como um trunfo quando as crianças aprendem a fazer alguma coisa sozinhas: vestir-se, escovar os dentes, amarrar os sapatos, andar de bicicleta.
Como adultos, gostamos de pagar nossas contas, morar na nossa casa, tomar as nossas decisões, não depender de nenhuma ajuda externa. Desprezamos quem vive à custa de assistência social ou de caridade. Diante de um desafio inesperado, procuramos autoajuda em livros. 

O tempo todo estamos sistematicamente barrando a atitude de coração que é mais desejável a Deus e que melhor descreve nosso Universo.
“Sem mim vocês não podem fazer coisa alguma”, disse Jesus a seus discípulos, um fato que nem querendo podemos negar.
A verdade é: não somos independentes. 


Como crianças talvez nunca aprendesse a ler livros, muito menos escrevê-los, se um professor não se postasse ao meu lado a ensinar-me e corrigir-me erros de leitura.
Como adulto, confio nos meus fornecedores de eletricidade, gás, combustível, água tratada, confio que os fabricantes de veículos e concessionárias de transportes providenciem o meu transporte, que os agricultores produzam os alimentos que vou consumir, que os pastores me nutram espiritualmente.



Vivemos numa rede de dependência, no centro da qual está Deus em quem todas as coisas subsistem.


A oração me força a visualizar minha verdadeira condição. Nas palavras de Henri Nouwen: “Orar é caminhar em plena luz de Deus e dizer simplesmente, sem restrições: ‘Eu sou humano e tu és Deus’”.

A maioria dos pais, sentem uma dor profunda quando o filho supera a dependência, embora eles saibam que essa evolução é sadia e normal.

Com Deus as regras mudam. Eu nunca supero a dependência e, na medida em que penso que o faço, me iludo.

Pedir ajuda está na raiz da oração: o próprio Pai-nosso consiste num conjunto de pedidos (Mt. 6:9-13).

A oração é uma declaração de dependência de Deus.


A Deus toda a glória!


Carlos R. Silva
primavera 2013
Adaptações e Compilação de textos de Philip Yancey, Ole Hallesby e Henri Nouwen

sábado, 14 de setembro de 2013

Jesus: verdadeiro Deus

Paulo afirma que Jesus Cristo foi escândalo e loucura para gregos e judeus (1Co 1:23). Os gregos procuravam explicar Deus a partir de elaborações filosóficas (absolutos metafísicos) e os judeus aguardavam um messias poderoso.

Antes de Jesus, o judaísmo criou a expectativa de que o Ungido de Deus se manifestaria como um grande conquistador, o libertador final – uma encarnação melhorada e glorificada de Moisés, e como um profeta mais exuberante do que Elias.

Nessas duas percepções – grega e judaica – Jesus de Nazaré mostrou-se um fracasso. Nem o absolutamente perfeito da filosofia, nem o supermessias.

Jesus causava horror: se o Deus dos fariseus zelava pela lei, ele insistia que os mandamentos podem ser flexibilizados pela misericórdia. A mulher apanhada no próprio ato do adultério experimentou a força de um amor capaz de vergar a rígida lei. A mulher siro-fenícia, o centurião romano, a senhora impura que padecia com uma hemorragia crônica, o endemoninhado que vivia em sepulcros, o cego da calçada, todos provaram que qualquer um pode aproximar-se de Deus sem intermediação sacerdotal e sem depender do cumprimento da lei.  

O Nazareno acolheu os não-eleitos. Ele democratizou, universalizou, a pretensão de qualquer pessoa achar-se escolhida. Para ele, ninguém foi providencialmente preterido. A graça banalizou a predestinação.

Jesus não amedrontava os ouvintes apresentando um Deus que persegue rebeldes. Pelo contrário, o Deus de Jesus é Pai ferido que espera o filho que saiu de casa. Mais que isso: Deus corre (é lindo isso!) ao encontro do filho arrependido. E mesmo se o filho cheirar como um porco, ele o cobre de beijos.

Ricardo Peter intuiu corretamente o porquê do ódio dos fariseus contra Jesus:
Os fariseus começaram a perceber que Jesus estava mudando radicalmente a maneira de entender quem é Deus. Este Deus teria podido provocar confusão e dispersão entre as pessoas religiosas. O comportamento do Deus anunciado por Jesus, do Deus que demonstra um amor incondicionado pelos pecadores, começava a colocar o Deus dos fariseus na sombra. Tinha início uma luta de ‘Deus contra Deus’.

Os religiosos contemporâneos de Jesus queriam que Deus excedesse o poder de Baal. Jesus se mostrava o oposto de uma divindade territorial e melindrosa. Ele era o salvador despido da arrogância. As pessoas aguardavam um líder que reunisse milícias mais arrasadoras do que as legiões romanas. Jesus, todavia, pegava crianças no colo enquanto ensinava que o Reino pertence a elas. Os pobres nacionalistas ambicionavam levar Israel à liderança do mundo para depois vingar os vários séculos de opressão. Jesus, contudo, abria o rolo da lei para citar as palavras do profeta: O Espírito do Senhor está sobre mim e ele me ungiu para pregar boas notícias aos pobres.

Assim, tomados de indignação, os religiosos conspiraram para matá-lo. – Se Jesus era a expressa imagem de Deus, merecia ser eliminado. Um Deus frágil não serve aos interesses da religião – qualquer uma.
No Carpinteiro amigo de Maria Madalena, a Divindade não se mostrou indiferente. O Emanuel, o Deus conosco, se moveu de viscerais afetos por uma viúva que enterrava o filho e chorou diante da sepultura do amigo. A dor humana dói em Deus. Isaías (63.9) antecipou a aflição de Deus ao dizer: Em toda a angústia deles, foi ele angustiado.

Ricardo Peter, com sua intuição sobre a revelação de Deus que Jesus brindou o mundo afirmou:
O Deus de Jesus assume o humano a tal ponto que liberta o homem da exigência de ser como Deus. Deus contém em si, agora o máximo de humanidade. Deus encontra-se imerso no humano. O ‘Reino’ de Jesus não requer seres excepcionais, melhores que o ‘resto dos homens’, que se preocupam em ser por eles contaminados.

Jesus incomoda sobremaneira os religiosos por mostrar que Deus é amor; e este amor relativiza qualquer dogmatismo. Nele as exigências e os ritos perdem força. Os conceitos milenares de um Deus inabalável e severo precisam ser jogados fora depois que se conhece o Bom Pastor.
Os que não distinguem entre o Deus grego ou fariseu e o Deus que Jesus encarnou têm razão em decretar a sua morte. A expressão Deus está morto não passa de um grito ressentido de gente que se defrontou com a noção errada de Deus; a divindade anunciada como um déspota obcecado pelo poder, realmente, precisa ser sepultada.

O Reino que Jesus de Nazaré revelou não tem paralelo com os reinos humanos. Sua proposta de vida continua despercebida dos poderosos, pois acontece entre pequeninos e no meio de desprezíveis: grãos de mostarda, ovelhas indefesas, pessoas ineficientes, servos inúteis, pecadores indignos, prostitutas, leprosos, cegos, mendigos, estrangeiros, exorcistas informais.

Deus escolheu esvaziar-se para revelar-se no Filho, Jesus Cristo. Todas as outras divindades merecem ser descartadas como ídolos.




A Deus toda a glória!


Carlos R. Silva
inverno 2013


Compilação do texto Jesus: a negação do ídolo, a afirmação de Deus de Ricardo Gondim.