quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O povo da cruz

Por que é que cristãos se surpreendem com a perseguição?
E o que dizer das casas apedrejadas, templos e tendas incendiados em nosso país, principalmente nas décadas de 60, 70 e 80?
Lembro-me como hoje, eu ainda era menino, no auge do culto, casas eram apedrejadas.
Meu pai, servo e pastor do rebanho do Senhor, hoje quase aos 80 anos, traz cicatriz na cabeça de uma pedra que atingiu a congregação onde ele ministrava.
Congreguei em uma igreja no Vale do Paraíba, que foi reconstruída das cinzas a partir da primeira que foi incendiada.
Em parte, creio que a surpresa deve-se ao evangelho triunfalista, da vitória, que não tem preparado as pessoas para abraçar e morrer por uma causa.
Nossos compromissos são levianos, reflexo da cultura do urgente, do tempo é dinheiro, do seja feliz agora.
Boa parte do que se ensina é sobre conquistar, ganhar dinheiro, cura da doença e uma série de outras promessas.
Não foi isso que Jesus prometeu!
A maior conquista, o que realmente importa, é a salvação, que, em resumo, se traduz em vida eterna.
"aquele que crê em mim tem a vida eterna." (João 6:47).
Neste contexto, faz sentido o "posso todas as coisas em Cristo que me fortalece." (Filipenses 4:13), tão largamente usado.
O fiel zomba da morte: “Mas, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1Co 15.54-55).
* * *
A maioria de nós leu a história dos 21 cristãos egípcios sequestrados na Líbia. Um vídeo do Estado Islâmico mostrou cerca de 12 deles sendo decapitados, e é quase certo que todos eles foram assassinados.
Não estamos surpresos
Jesus nos disse para esperar perseguição, ensinando os seus discípulos que os incrédulos nos odiariam assim como o odiaram (João 15.18-20).
Jesus previu que alguns daqueles nos matariam, pensando estar oferecendo um serviço a Deus (João 16.2).
Embora muitos de nós não venha a perder a própria vida em nome de Cristo, não devemos ficar surpresos se isso acontecer. Todos nós precisamos estar prontos para entregar as nossas vidas por Cristo. “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.26).
Somos mais que vencedores
Jesus nos chama a ser fiéis até a morte para receber a coroa da vida (Apocalipse 2.10).
Jesus também nos chama a nos alegrarmos quando perseguidos, pois é grande honra morrer pelo nosso Senhor e Salvador, e a nossa recompensa excederá em muito o nosso sofrimento (Mateus 5.10-12; Atos 5.41). Naturalmente, podemos ficar temerosos e assustados com tal possibilidade, preocupados de que não tenhamos a força para sofrer. E não temos a força em nós mesmos, mas Deus promete ser conosco no fogo e na água (Isaías 43.2), e promete nos dar graça para suportar o que há de mais difícil. “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra” (2 Coríntios 9.8).
Ao morrer em nome de Cristo, ao não amar as nossas próprias vidas mesmo mediante a morte, não somos perdedores, mas vencedores; não somos vencidos pelo mal. Pelo contrário, somos “mais que vencedores” (Romanos 8.37; Apocalipse 12.11). Aqueles que são mortos em nome de Cristo ressuscitam e reinam com Jesus Cristo (Apocalipse 20.4).
Choramos com os que choram
Paulo diz que “o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1.21). Ainda assim, a questão não é simplista, e a vida não é fácil. Nós choramos com aqueles que choram (Romanos 12.15). Paulo disse que se Epafrodito tivesse morrido, ele teria experimentado “tristeza sobre tristeza” (Filipenses 2.27). A tristeza enche os corações daqueles que ficam.
Oramos tanto pelos nossos inimigos quanto pelos nossos irmãos e irmãs que sofrem
Precisamos de uma graça especial para orar pela salvação daqueles que praticaram tamanho mal.
Também oramos pelos nossos irmãos e irmãs que sofrem ao redor do mundo; pedimos que Deus conceda a eles alegria, força e perseverança para suportar até o fim.
Oramos para que Deus os proteja e sustente a sua igreja.
Oramos pelo justo juízo de Deus
Ao mesmo tempo, assim como os mártires debaixo do altar em Apocalipse 6.9-11, nós clamamos: “Até quando, ó Soberano Senhor?” Quando tu agirás com justiça para com este mundo? Quando tu vindicarás os teus santos e julgará os perversos por amor ao teu grande nome?
O dia do juízo está chegando, o dia em que tudo será ajustado. Enquanto isso, Deus está chamando muitos mais para serem seus filhos, mesmo dentre aqueles que nos perseguem. Nós louvamos a Deus tanto pelo seu amor salvador quanto pelo seu justo juízo, e oramos: “Vem, Senhor Jesus” (Apocalipse 22.20).


Esboço de idéias e complementos a partir do artigo e slogan: Povo da Cruz
Leia este e outros textos sobre a igreja perseguida:
http://voltemosaoevangelho.com/

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Tirem a pedra

Ao ver chorando Maria, irmã de Lázaro, Jesus ficou comovido e aflito.
Jesus chorou!
Eis aí o comportamento de um Deus amoroso e bom.
Temos um Deus que se importa conosco a ponto de demonstrar sua comoção publicamente.
Esta comoção é um contraste com o conceito grego naquela época de que os deuses eram indiferentes, não se envolviam com seres humanos.
Mas Jesus demonstrou o contrário disso: compaixão, indignação, tristeza e até frustração.

Temos um Deus que se importa. 
Jamais tenha medo de levar seus sentimentos a Jesus, nem de expressa-los e revela-los a ele. Jesus os entende, porque experimentou cada um deles.

"Ele, que abriu os olhos do cego, não poderia ter impedido que este homem morresse? " (João 11:37).
Em contraste com o procedimento de Jesus, as pessoas presentes parece que não se conformavam de que ele tivesse deixado Lázaro morrer.
Muito humano, muito nosso esse comportamento de querer nivelar as ações de Deus, de querer determinar a forma como ele deve agir.
É assim que age todo o que não entende o agir de Jesus.
É assim que age o que sofre de religiosidade (religiosivite?).
A tentativa de colocar Deus numa caixinha. Moldar e determinar a forma como ele deve agir.
Isso é perigoso, pode nos levar a crer que Deus pode ser administrado. E aí teríamos receitas para dobrar a Deus, receitas para obter o favor de Deus!

Jesus pretendia mostrar a sua glória. Ser glorificado através dos milagres que realiza através do seu povo: "Essa doença não acabará em morte; é para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela" (João 11:4).

Ele pretendia mostrar um sinal para estimular a crença nele mesmo:

"Lázaro morreu, e para o bem de vocês estou contente por não ter estado lá, para que vocês creiam. Mas, vamos até ele" (João 11:14-15).

E quanto ao "tirar a pedra"?
O primeiro aspecto relativo ao tirar a pedra é a racionalidade de Marta argumentando que Lázaro estava morto há quatro dias, e que o corpo cheirava mal. Estava coberta de razão. 
Jesus confronta a racionalidade de Marta com a sua necessidade de crer. Ela precisa crer.  "Se você crer, você verá a revelação do poder glorioso de Deus" (João 11:40).
Isto é particularmente instrutivo. Somos muito racionalistas e custa-nos submeter a razão, por completo, ao poder de Jesus.
Não que sejamos incrédulos. Marta também não era. Mas eu, assim como muitas pessoas, “colocava a razão a serviço de Cristo”, mais do que submetia a razão a Cristo. São coisas diferentes.
Muitos de nós, crentes, igrejas e instituições temos perdido a capacidade de crer no poder transformador de Jesus, em sua infinita capacidade de mudar situações.
Trocamos a fé por análises sóbrias, bem fundamentadas e racionais da situação.
Assim transformamos o evangelho em algo sem poder, sem atrativo. Transformamos o evangelho apenas num amontoado de informações sobre Deus.

O evangelho não é estudar Deus. É fortalecer-se nele. “fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. “ (Efésios 6:10).
Tiramos a sobrenaturalidade do evangelho e colocamos o conhecimento em seu lugar.

A vida abundante com Jesus passa a ser o ter informações sobre Jesus. Isto é um empobrecimento do evangelho.

Jesus poderia tirar a pedra?
Este é o segundo aspecto sobre tirar pedras.
O homem que já se decidiu trazer Lázaro do mundo dos mortos, e tinha autoridade para tal, poderia fazer a pedra desaparecer. Ou invocar anjos para arrastá-la.
Mas tirar Lázaro da morte só ele pode fazer.
Tirar pedras é com os homens. Uma parceria, digamos assim, para o andamento da obra de Deus.
"Porque nós somos cooperadores de Deus;" (1 Coríntios 3:9).
Ele faz o impossível. O possível, nós devemos fazer, crendo nele, e, o mais importante, sob sua orientação, seguindo as suas ordens.
Se tirassem a pedra antes, nada adiantaria. Se deixassem para depois, também seria inútil. Deve-se agir sob a orientação de Jesus e crendo no seu poder.

A resposta do Salvador à objeção de Marta é digna de nota: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” (v. 40).
Ele não disse: “Se planejares”. Ou “Se fores bem racional”. Ou “Se usares as modernas técnicas de arrastamento de pedra”. Nem ainda “Façam um cursinho sobre como arrastar pedras”.
Ele disse “Se creres”. 

Somos chamados a crer no irracional, no impossível, no que os homens não conseguem nem podem explicar.
Cuidemos para não rebaixarmos o evangelho ao reino do possível ou trazer a igreja para o degrau do “Só o que foi bem planejado tem possibilidade de dar certo”.
O que faz tudo dar certo é o poder de Cristo.
Precisamos voltar a crer no sobrenatural, a entender que a razão é dom de Deus, mas que nunca pode reger as ações da igreja, e que nossa vocação é para sempre esperarmos dele o desconcertante.

Nós vemos a glória de Deus quando cremos de todo coração que ele pode fazer o impossível.
Para que aconteça conosco só o possível não precisamos de Jesus.
Mas, ele é o Senhor exatamente para ser glorificado na nossa impossibilidade, na nossa fraqueza, quando, é claro, agimos em obediência. 


Solus Christus!

Carlos R. Silva 
verão 2015


Meditações em João 11:1-45 - Parte 3 / 3. Três reflexões sobre a morte e ressurreição de Lázaro.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Crês isto?

Para muitos, a morte é o fim da carreira. Vivem somente para esta vida. Talvez, por isso vivem de rotina. Sua vida se resume a comer, beber, trabalhar, dormir, levantar, e comer e beber, e trabalhar e dormir...
Uma existência permeada de incertezas, medo e nenhuma esperança.

Mas a vida não seria mais do que isto?
Segundo o apóstolo Paulo, “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (1 Coríntios 15:19).

Diante da palavra de Marta de que Deus poderia lhe conceder tudo quanto ele pedisse (inclusive ressuscitar seu irmão), Jesus diz que Lázaro há de ressurgir (João 11:23).
Jesus continua sua argumentação, seguindo o raciocínio de Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto?” (vv. 25,26).

Você olha para seus sonhos e projetos destruídos, suas melhores expectativas para você, seus filhos, sua igreja se desfazendo e é informado de que ainda há esperança. “Crês isto?”.
Será que existe vida, apesar desse meu estado? Apesar destas circunstâncias de morte, destes laços e cordéis que me cercam?

Haverá, sim, uma ressurreição por causa de Jesus, que é ressurreição e vida. 

Há sim ressurreição hoje para a morte espiritual, para o estado de apatia espiritual que alguém possa se encontrar.

Há ressurreição para a morte física. Jesus demonstraria que ele é poderoso para trazer alguém do mundo dos mortos e dar vida novamente.
Jesus pergunta a Marta se ela crê nisto, e ao invés de apenas dizer “sim”, ela vai além: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo” (v. 27).
Ela sabia diante de quem estava, eles eram amados do filho de Deus, Jesus Cristo (João 11:5).

E haverá a ressurreição para a vida eterna. “Teu irmão há de ressurgir”. Não só ele. Nós, também. Um dia sairemos do hades e viveremos para sempre. 

Podemos dizer que somos indestrutíveis. Como é bom pensar nisso!
Um dia virá a morte física. Ela é inevitável. Inimiga formidável, espera por todos nós.
Mas a morte não tem a palavra final. Cristo tem. Os mortos ouvirão a sua voz e voltarão à vida. E para sempre, com ele. Seremos indestrutíveis!

Se você é de Cristo, há de ressuscitar. Por causa de Jesus Cristo.
O Evangelho é maravilhoso por causa disto, nosso Senhor ressuscitou e, como ele, nós também ressuscitaremos! É isso que diferencia o Cristianismo das demais religiões.

Desde ressurreição de Jesus, a morte se tornou paciente terminal. Um dia ela morrerá: “E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo” (Ap 20.14).

O fiel zomba da morte. Sobre ela tripudia o apóstolo Paulo : “Mas, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1Co 15.54-55).

Isto é possível por causa de Jesus: “nosso Salvador Cristo Jesus, o qual destruiu a morte, e trouxe à luz a vida e a imortalidade pelo evangelho” (2Tm 1.10).
Bendito seja Jesus Cristo, o Ressurreto. Por causa dele, haveremos de ressurgir.

Solus Christus!

Carlos R. Silva
verão 2015

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Meditações em João 11:1-45 - Parte 2 / 3. Três reflexões sobre a morte e ressurreição de Lázaro.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Quando Jesus se atrasa

É claro que o título desta reflexão é para mexer com o leitor, talvez fazer com que se demore mais para avançar pelo texto ou, no mínimo, suspeitar sobre o que vem nas próximas linhas.

Diante do notícia de que o amigo Lázaro, a quem amava, estava enfermo, Jesus demora-se ainda dois dias para ir até onde ele estava.
Depois, mesmo sob o risco de morte, de ser apedrejado, ele decide ir, cuidando de que Lázaro já "dormia".
Ainda sob o parco entendimento dos discípulos, afirma-lhes claramente de que Lázaro havia morrido. Era melhor assim, até um motivo de alegria, pois isto faria bem aos discípulos, lhes ajudaria a crerem nele.
Nisso, Tomé, injustamente tido como duvidoso pela maioria de nós, demonstra exatamente o contrário: "Vamos também para morrermos com ele". Um ato de coragem e certeza de quem era o seu mestre.

A questão é que ele se demorou até Lázaro morrer. Só depois de sua morte é que ele resolveu visitá-lo. Visitar um defunto?
O fato é que Jesus se atrasou no socorro pedido. As irmãs esperavam seu socorro, tanto que lhe disseram que se ele estivesse lá, Lázaro não teria morrido.

Jesus chegou atrasado! E aqui temos um problema que muitos de nós enfrentamos.
Por que ele chega atrasado quando estamos com problemas?
Por que não ouve nosso clamor, de imediato? Por que tarda?
Em outras palavras: por que Deus não cuida melhor de nós, e impede que as dificuldades nos sufoquem?

O propósito, que aponta a resposta, está no versículo 4 do texto. Jesus já havia se pronunciado antes de decidir ir até Lázaro.
“Jesus, porém, ao ouvir isto, disse: Esta enfermidade não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”.

Nossa preocupação é “salvar nossa pele”.
Deveríamos ter a mente de Jesus: nossas aflições servem para que ele seja glorificado em nossa vida. Por isso ele se “atrasa” muitas vezes.
“Atrasa-se” aos nossos olhos, pois, na verdade ele sempre age na hora certa.

O que causaria mais impacto: curar uma enfermidade ou ressuscitar um morto de quatro dias?
Os judeus criam que a alma de um homem levava quatro dias de caminhada, de seu corpo até o sheol. No quarto dia, ela estava definitivamente encerrada.
Jesus mostra poder sobre a morte a ponto de abrir as portas do sheol e trazer um homem de lá. Ele tem poder sobre a morte, sobre o mundo dos mortos.

Deus é misericordioso.
“Lázaro” é a forma aramaica de “Eleazar”. Literalmente, Él’azar. Significa “Deus é misericórdia”.
“Betânia” é o hebraico Beit’aniah, “casa da pobreza”.
Na casa da pobreza, Jesus teve misericórdia de sofredores, e agiu poderosamente. Ele ajudou aquelas vidas, foi glorificado e muitos creram nele.
Hoje, a cidade se chama El-Azarya, associada ao nome de Lázaro. Deixou de ser casa da pobreza para ser o lugar da misericórdia de Deus.

Será que Jesus atrasou-se?
Tudo fazia parte de um plano para uma obra maior, um sinal maior, um milagre maior.
Quando você pensar que Jesus está se atrasando para socorrê-lo, pense que sua demora é para mostrar mais poder ainda, e para ser glorificado em sua vida.
Que o nosso maior anseio seja Jesus glorificado em nós, através de nós, através das circunstâncias.
E lembre-se: Jesus transforma a casa da pobreza em lugar de misericórdia.

Solus Christus!

Carlos R. Silva
verão 2015





Meditações em João 11:1-45 - Parte 1 / 3. Três reflexões sobre a morte e ressurreição de Lázaro.


O Toque Purificador


No primeiro milagre relatado por Mateus, uma cura, e não qualquer uma: lepra.
Numa analogia que cabe para todo o cristão desde o novo convertido até o ancião:
Assim como a lepra, o pecado separa-nos uns dos outros e de Deus.
Assim como a lepra, o pecado anestesia o coração, os sentimentos e a fé.
Há uma sutil inversão de valores, já não se chora mais por qualquer coisa, isto é para fracos!
Vive-se um tempo de compromissos levianos, sem envolver-se.
Anestesiada, a pessoa nem percebe quando se fere, e, assim como a lepra, o pecado leva à morte.
Bendito o exemplo do leproso que ousa enfrentar a multidão. Imagine!
Um doente, excluído, condenado, mas adorador!
Joga-se aos pés de Jesus, adorando-o, e num pedido singelo e cônscio de quem era o que estava à sua frente: "se quiseres, podes purificar-me".
A resposta não poderia ser mais direta, sem rodeios, sem enfeites: "Quero, sê limpo!".
E Jesus faz mais: contra tudo e todos (lei e religiosidade) ele o toca.
O toque purificador, que sara, reaproxima, torna sensível novamente e devolve ao convívio.
Que Deus nos ajude a nos acharmos sempre necessitados, carentes de cura, carentes do toque purificador de Jesus.

Solus Christus!

Carlos R. Silva
verão 2015

Deus sempre nos atinge em cheio, independente de quão experientes somos em nosso cristianismo.
Paráfrase baseada em Mateus 8:1-4

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Cristianismo teórico, a nova heresia

Um dos fenômenos revelados no último censo é o crescimento de um grupo religioso chamado de “evangélicos não-praticantes”. Trata-se de gente que de alguma forma se identifica com o movimento evangélico mas não mantém vínculo com igreja alguma. Este comportamento revela que há uma tendência na sociedade brasileira ao nominalismo, que traz embutida na sua tese a possibilidade de se viver um Cristianismo teórico, isento da prática cotidiana da fé.
Um olhar sociológico dessa postura pode levar a interessantes reflexões e avaliações, especialmente aquelas que se referem à busca das possíveis motivações para uma escolha tão radical quanto esta. Mas o que me interessa neste artigo é fazer uma análise apologética e chamar a atenção para as ameaças contra a pureza da fé, uma vez que o nominalismo caminha ao lado do secularismo, e foi por esta via que o testemunho do Evangelho perdeu força na Europa, abrindo caminho ao ateísmo.
A grande maioria dos cristãos não está preparada para reconhecer uma heresia. Heresia é uma coleção de ideias, conceitos e teses construídas em oposição à sã doutrina. Um dos evidentes sinais da volta de Cristo, diz respeito à intensificação de ensinamentos provenientes de espíritos enganadores, e de tal forma absorvidos ao ponto de implantar um estado de apostasia. Logo, estar despertado para fazer a defesa da fé está entre as principais atividades dos santos em todas as gerações. Entre as muitas ameaças que rondam a igreja desde muito tempo é o nominalismo, ou seja, a confissão de Cristo isenta da prática do ensino de Cristo; uma espécie de fé substancialmente teórica na qual não se encontra qualquer ressonância prática. A postura é razoavelmente nova por aqui, mas já é conhecida das igrejas do hemisfério norte e responsável pelo esfriamento de gerações inteiras de cristãos, que não souberam avaliar adequadamente as propostas heréticas que o movimento propagava.
Para o combate ao nominalismo, algumas perguntas precisam ser feitas e objetivamente respondidas: Seria possível ser cristão sem um engajamento na busca pela santidade? Quanto de verdadeiro Cristianismo existe numa vida sem oração? A obra regeneradora do Espírito Santo deixa de fora a manifestação do fruto do Espírito? Existem outras perguntas que merecem, como estas, serem feitas e respondidas, mas estas são suficientes.
Outras gerações acreditaram – talvez haja quem continue a acreditar – na possibilidade de ser cristão sem engajamento numa vida santa. No passado, cunhou-se a expressão crente carnal para rotular as pessoas que em tese haviam abraçado a fé excluindo a radicalidade do discipulado, como se isso fosse possível. Gente que entrou na igreja mas que jamais fora afetada pelo Evangelho. A falta de coerência da soteriologia (doutrina da salvação) e questões envolvendo perdão, justificação, santificação e glorificação, somado à completa falta de percepção da obra do Espírito Santo levou-os a remover a busca da santidade dentre os sinais evidentes da obra salvífica. Pode parecer apenas uma questão de interpretação, mas isto é sinal de nominalismo e mata a fé.
Definitivamente, não há salvação fora de Cristo e da obra de Cristo. Aquele que foi chamado, também foi justificado e santificado. “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. (Hebreus 12.14)


Weber Chagas
Weber Chagas é pastor da Igreja Cristã Nova Vida em Vila São Luiz, Duque de Caxias/RJ, Pós-graduado em Plantação e Revitalização de Igrejas pelo Seminário Presbiteriano do Sul e Doutorando em Ministério pelo Seminário Servos de Cristo. Foi missionário na África do Sul entre os anos de 1987 e 1994. É casado com Lourdes e possui dois filhos, Heber e Raquel.