quarta-feira, 29 de março de 2017

Sua presença e nada mais

Rubem Amorese

Para que serve Deus? Para nada. Bem, pelo menos deveria ser assim. Deus deveria ser inútil. Explicando: Deus deveria ser nossa eterna fonte de prazer e gozo. Sem a necessidade de nos ser útil; sem que esse prazer dependesse de pedidos atendidos, problemas resolvidos, exercícios espirituais, teologias etc. Fomos criados para apenas “curtir” a sua presença, a sua amizade, a sua beleza, numa alegria e paz sem fim. Fomos concebidos para ser um com ele, assim como é o Filho com o Pai.

Sua presença apagaria todas as nossas preocupações, ansiedades, frustrações, medos, temores e coisas assim. Bastaria a nós estar com ele, plenos de felicidade; sem relógio, sem passado e sem ansiedades. Uma versão completa do pouquinho que experimentam amantes apaixonados, quando se encontram. Imagem pálida do amor que experimenta um pai quando pega sua filhinha no colo pela primeira vez: tudo para; tudo cala; tudo se resume aos dois.

Seria como quando a corça deixa de suspirar e encontra a corrente das águas (Sl 42.1). Seria como quando a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe (Sl 131.2). Seria como se finalmente habitássemos “na casa do Senhor por longos dias” (Sl 23.6). Seria como quando nos víssemos diante da face de Deus (Sl 42.2). Ou como quando a trombeta tocasse e o noivo entrasse para as bodas (Mt 25). Seria como aquele dia em que nossas lágrimas fossem enxugadas em consolo definitivo (Ap 21.4).

E para que serviriam todos esses momentos inefáveis? Para nada, insisto. Pensar na utilidade deles seria amesquinhá-los, pois nossa alma secretamente anseia por eles. Sonhamos ver cada um deles transformados em estado permanente; o “estado de graça”. Finalmente, o peregrino chegaria ao seu destino; o que procura encontraria; ao que bate, abrir-se-lhe-ia; o que tem sede beberia; eternamente. E seríamos “felizes para sempre”.

Tudo isso estava à disposição de Elias, naquela caverna (1Rs 19.11-16). Ele havia determinado a seca e a chuva; havia vencido os profetas de Baal e humilhado os falsos deuses. Agora, exaurido e deprimido, lambe suas mágoas. Tal era a agitação de sua alma que Deus precisou esperar para lhe falar. E disse: “Elias, o que fazes aqui?” — fugindo de Jezabel, como quem teme a homens?

Quando as razões eclesiásticas, missionárias, funcionais — utilitárias, enfim — cessarem, o que será da nossa devoção de servos do Senhor?

Pastores, professores, missionários, presbíteros, diáconos, ministros e tantos outros “agentes do reino” precisam considerar o momento em que, eventualmente, entregarem ou perderem seus cargos e voltarem ao banco da igreja. O que serão e farão agora? Estranharão o seu Deus como um casal que se olha após o casamento do último filho? Após tanto tempo de dedicação aos filhos, agora, ninho vazio, olham um para o outro como estranhos? Não. Que essa eventual exoneração nos seja uma promoção honrosa — e deliciosa. Agora, Deus nos será companhia ainda mais próxima e verdadeira; presença constante, pessoal e íntima. O cálice que, finalmente, transborda.

Agora, sim, sem “para quês”, restarão encontros inesperados com o Amado de nossas almas. Sem relógios, sem esboços, sem demandas, sem agendas. Só nós e ele. Enquanto ele quiser que assim seja. E até que nos chame.


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Texto publicado originalmente em :
http://ultimato.com.br/sites/amorese/2017/02/01/sua-presenca-e-nada-mais/

terça-feira, 28 de março de 2017

Amor incomparável


Deus, como pai amoroso, tem cuidados que excedem à nossa compreensão.
O amanhecer é prova disso.
É impossível permanecer indiferente diante do sol nascente. O astro rei, está ali, todos os dias, nos lembrando da Sua fidelidade e do novo começo que sempre renasce.

Pode ter sido a simples alegria ou até a esperança de um amanhecer que estimulou Jeremias a escrever: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lamentações 3:22,23).



Carlos R. Silva
28/03/2017

domingo, 26 de março de 2017

Teologia da Hiena

Como um cristão lida com a brevidade, os fardos e as baixas da vida sem ceder ao que eu chamo de “Teologia da Hiena”?
A hiena é a personagem Hardy, da série Lippy e Hard, desenho de Hanna-Barbera.
Hardy, uma hiena e Lippy, um leão, andavam sempre na companhia um do outro.

Hardy era uma hiena pessimista, em depressão, que nunca ria. O otimista Lippy, o leão, tentava animá-lo, "Calma, Hardy!", mas Hardy sempre saía com "Eu sei que não vai dar certo... Oh, dia, oh, céus, oh, azar...".

Hardy só vê o lado negativo de tudo. Um cristão com essa síndrome fará afirmações como estas: “Só tem pecado em todo lugar — até mesmo na igreja.”. “A situação está ruim, como nunca esteve.” “Como estou? - Indo!”.

Ao escrever o Salmo 90, Moisés estava melancólico, e meditava na tremenda distância entre a majestade eterna de Deus e a fragilidade humana. Nós lutamos, sofremos, pecamos, tememos a Deus e morremos (Sl 90.7-10). Isso é realmente depressivo, mas espere: Moisés não terminou este Salmo com o mesmo humor.

Como o profeta reagiu à Teologia da Hiena? Ele escreveu: “Satisfaze-nos pela manhã com o teu amor leal, e todos os nossos dias cantaremos felizes.” (Sl 90:14).

O amor leal de Deus é suficiente!
Como é possível alegrar-se em Deus?

Ao valorizarmos cada momento e constatarmos que a felicidade está em coisas simples, na refeição mais simples quando comemos em paz e desfrutamos comunhão uns com os outros.

Nos alegramos ao vivermos na glória da nossa redenção, que é a maneira maravilhosa como fomos comprados e libertos da tirania do sistema chamado mundo.

Quando vivemos a alegria das bênçãos em Cristo, livres do. urgente, do ter, do amontoar e conquistar, para viver uma gloriosa esperança, a da vida eterna com Deus.

Assim nos sentimos encorajados a orar como Moisés, pedindo pela bondade de Deus, nossa verdadeira segurança.
Isso nos levará a orar pedindo a Deus para dar-nos “sucesso em tudo o que fizermos”. (Sl 90.17)

O amor de Deus, a certeza da sua presença todos os dias serão suficientes para terminarmos bem o dia, a semana, a vida.




Carlos R. Silva

26 Março 2017





  • Fragmentos de EGNER, David. Pão Diário. Teologia do Bisonho, 2017. 
  • Biblia de Estudo NVI. Ed Vida.
  • Bíblia de Estudo NTLH. SBB.

sábado, 25 de março de 2017

O Mesmo Sermão

Daí em diante Jesus começou a pregar: "Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo". (Mateus 4.17).

Imagine-se ouvindo um mesmo sermão por semanas a fio. Parece estranho, mas talvez devesse ser assim, porque a Palavra de Deus diz “Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes”
(Tiago 1:22).
Que tipo de cristãos seríamos se tivéssemos colocado em prática todos os sermões que já ouvimos?

Conta-se a história de um homem que pregou um sermão impressionante, almejando ser o pastor de uma nova igreja. Todos gostaram da mensagem e votaram para que ele se tornasse o novo pastor. Todavia, ficaram um pouco surpresos quando ele fez a mesma pregação no primeiro domingo — e ficaram ainda mais surpresos quando a pregou na semana seguinte.

Após ministrar o mesmo sermão por três semanas seguidas, os líderes se reuniram com ele para saber o que estava acontecendo. O pastor lhes assegurou: “Sei o que estou fazendo. Quando vocês começarem a praticar este sermão, vou pregar o seguinte.”

Os sermões de Jesus tinham um tema notável que se repetia. Não é de se admirar que o Rei dos reis quisesse estar seguro de que as pessoas o entendiam, e o que era exigido delas para fazerem parte de Seu reino. Ele veio anunciar uma ordem totalmente nova, completamente diferente do modo como as pessoas viviam. Temas como o perdão, serviço aos outros, misericórdia e graça incondicionais estavam constantemente em Seus lábios.

Dois mil anos mais tarde, temos a necessidade de ouvir a mesma mensagem.
Quando nos arrependermos e vivermos sob a autoridade, o domínio e o governo de Jesus, nosso Rei, experimentaremos benefícios em nossa vida.
O nome de Jesus será glorificado e outros serão abençoados.

Um sermão somente estará completo quando for colocado em prática.


Carlos R. Silva
25 Março 2017



  • Adaptação e compilação de STOWELL, Joe. Pão Diário 2017. Mesmo Sermão. Ed Pão Diário
  • Bíblia de Estudo NVI. Ed Vida

terça-feira, 14 de março de 2017

Não existe almoço grátis

Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Romanos 12.2).

Certamente você conhece o dito popular: "esmola demais, o santo desconfia"!

Disserto, por alguns instantes, sobre como é fácil "não desconfiar". Este texto é um chamado à despertar para a realidade espiritual.

Durante uma aula, em uma universidade, um dos alunos, inesperadamente, perguntou ao professor:
‒ O senhor sabe como se capturam os porcos selvagens?
O professor achou que era uma piada e esperava uma resposta engraçada. O jovem respondeu que não era uma piada, e com seriedade começou sua dissertação:

‒ Para capturar porcos selvagens, primeiro localiza-se um lugar na floresta que os porcos selvagens costumam frequentar, e ali coloca-se um pouco de milho no chão, diariamente. Assim, os porcos selvagens vêm diariamente para comer o milho "grátis" e, quando se acostumam a vir diariamente, você constrói uma cerca no entorno do local, onde eles se acostumaram a comer, um lado de cada vez.

Aí, quando eles se acostumam com a cerca, eles voltam para comer o milho, e você constrói outro lado da cerca. Eles voltam a acostumar-se e voltam a comer. Você vai construindo a cerca no entorno, pouco a pouco, até instalar os quatro lados do cercado em torno dos porcos. No final, instala uma porta no último lado.

Os porcos já estão habituados ao milho fácil e às cercas e assim começam a vir sozinhos pela porta de entrada. É aí que você fecha o portão e captura a todo o grupo. Simples assim, no passo a passo, até que no último segundo os porcos perdem sua liberdade.

Eles começam a correr em círculos dentro da cerca, mas já estão presos. Depois, começam a comer o milho fácil e gratuito. Ficam tão acostumados a isso que esquecem como caçar por si mesmos, e por isso aceitam a escravidão. Mais ainda, mostram-se gratos com os seus captores e, por gerações, vão felizes ao matadouro. E nem desconfiam que a mão que alimenta é a mesma que lhes abate.

O jovem comentou com o professor que era exatamente isso que ele via acontecer no seu país, no seu estado, em sua cidade, com o seu povo.

Sirvo-me da história e construo um pequeno raciocínio com aplicação imediata para as nossas vidas.

É exatamente assim que o pecado faz conosco.
Sabendo-se que pecado é desacordo, falta ou violação, é preciso dizer que ele traz prazer, pois é alimento para a carne. Sem medo de errar: verdadeiro “almoço grátis”.

Somos inclinados a olhar a grama do vizinho, reclamar pelo que não temos e desejar o que não precisamos. Em qualquer área.

Somente que, chega um momento que, o que antes nos chocava, já não o faz mais. O que antes era perigoso, tornou-se até agradável. O que antes era pecado, já está moldado, com novas formas, nova roupagem e é aceito.

O que mudou? Nos conformamos, nos amoldamos aos padrões do mundo. O mundo é este sistema corrupto, que cauteriza a consciência, desumaniza a pessoa, prende a alma e fortalece a relação de inimizade para com Deus.

Sem percebermos, e mesmo apercebidos também, somos engolidos pela moda ditada na mídia, pela busca insana pelo corpo perfeito, pelo ter e conquistar descabidos. E assim, o perene toma o lugar do eterno!

Se não cuidamos, somos conquistados pelo sucesso fácil, em nome de uma religiosidade democrática e liberal, e nos acostumamos com o milho gratuito por tempo suficiente para alcançar a mansidão teológica, a mansidão doutrinária e a mansidão de princípios.

Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: "Sejam santos, porque eu sou santo". (1 Pedro 1:15,16).

Fuja da esmola, fuja do “almoço grátis”. Ele não existe!



Carlos R. Silva
14/03/2017


  • Texto da ilustração circulante nas redes sociais.  
  • Textos bíblicos: Bíblia Sagrada versões NVI e ACF.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Eu, um semeador?


Vivemos os nossos dias, muitas vezes, sem perceber que, por onde andamos, estamos semeando.

Somos todos semeadores, sabendo ou não disso. Isto não é um processo somente no reino vegetal, pois há outras coisas que também chamamos de sementes. Semeamos a fé e semeamos a descrença, semeamos a luz e semeamos as trevas.

Toda semente é uma esperança. A semente é uma maravilha da criação, por menor que ela seja. O potencial da semente é enorme. Depois de morrer, ela desabrocha, cresce, ganha forma, faz nascer ramos, flores e frutos.

Tiago fala em semente e colheita:
“A bondade é a colheita produzida pelas sementes que foram plantadas pelos que trabalham em favor da paz. (Tg 3.18).

Os que plantam a semente da paz colherão justiça. Trata-se de um incentivo para se semear coisas boas. Sempre haverá semente boa e semente má. Em última análise, “quem semeia as sementes boas é o Filho do Homem” e “o inimigo que semeia o joio é o próprio Diabo” (Mt 13.37,39).

A questão é séria porque “quem semeia a maldade colhe a desgraça” (Pv 22.8). Ninguém deve se iludir, pois o ser humano “sempre colherá aquilo que planta”. “Se plantar a fim de agradar aos seus próprios desejos maus estará plantando as sementes do mal e logicamente fará uma colheita de ruína espiritual e morte” (Gl 6.7-8, NBV).

Carlos R. Silva | 09 Março 2017




Adaptação de Boa semente e boa colheita. Refeições diárias com os discípulos. Ed Ultimato.

sexta-feira, 3 de março de 2017

O Deus que vê

Grávida e desprezada Agar foge para o deserto.
Ninguém parecia se importar com ela e com o filho que esperava. Ninguém a procurou para certificar-se do seu bem-estar no deserto. Ninguém a não ser Deus, o El Roi — que quer dizer “Tu és o Deus que vê” (Gênesis 16:13).

Sara, esposa de Abraão, sentia-se como o elo fraco da cadeia de promessas de Deus para abençoar o seu marido com muitos descendentes.

Algumas promessas parecem grandes demais, boas demais para serem verdade, então, por um momento, nos esquecemos de quem é que está prometendo e ao invés de olhar para o caráter e para o poder de Deus, olhamos para as nossas limitações.

Por ser estéril, Sara aconselhou Abraão a ter filhos com a sua serva e construir uma família utilizando-se dela. Esta sugestão, ou melhor, esta ajuda para apressar o plano de Deus, que brotou em meio à pressão cultural de deixar herdeiros, trouxe somente problemas.

Quando ficou grávida, Agar passou a olhar para Sara com desprezo. A esposa da que seria a grande família era incapaz de gerar filhos. Sara maltratou tanto a Agar, que ela fugiu.

Agora, no deserto, enquanto Agar sente a miséria do seu passado e a incerteza do seu futuro, ela se encontrou com Deus, que a viu e cuidou dela.

El Roi, “O Deus que vê”, vê seu passado miserável, sua dor no presente, seu futuro incerto. Ele é tão atencioso que sabe até quando morre o menor dos pardais (Mateus 10:29-31).

Este é o Deus que o vê e cuida de você ainda hoje.
Mantenha os seus olhos no Senhor, ele não precisa da nossa ajuda para que seus planos aconteçam. Por outro lado, você nunca estará só, Ele sempre te vê.

Eis aí uma das formas lindas e maravilhosas de conhecer e saber sobre Deus:
El Roi, “Tu és o Deus que vê”.


Carlos R. Silva | 03 Março 2017



Adaptação e compilação: El Roi. Devocional Pão Diário 2017.


quarta-feira, 1 de março de 2017

Mais um dia

Tem dias que nos sentimos fortes como Josué e Calebe, prontos para a guerra.
Tem dias que preferimos nos esconder na caverna, como Elias.
Tem dias que queremos cantar e dançar, como Davi e Miriã.
Tem dias que queremos chorar, como Ana o fez.
Tem dias que temos fé como Abraão, fé para obedecer, vencer, saltar muralhas e derrotar exércitos.
Tem dias que elevamos os olhos para os montes e nos perguntamos: "De onde virá o meu socorro"?

Isso não quer dizer que sejamos fortes ou fracos, significa que somos humanos, limitados e dependentes de Deus.

Hoje, mais uma vez, independente do seu ânimo, Jesus está contigo.
Afinal, você não se lembra?
"E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos" (Mt 28.20), ele disse.
Que o Senhor Jesus te abençoe, te fortaleça e te ajude em mais um dia!

Bom dia!



Adaptacao:
 Carlos R. Silva - 01 Março 2017