sábado, 14 de setembro de 2013

Jesus: verdadeiro Deus

Paulo afirma que Jesus Cristo foi escândalo e loucura para gregos e judeus (1Co 1:23). Os gregos procuravam explicar Deus a partir de elaborações filosóficas (absolutos metafísicos) e os judeus aguardavam um messias poderoso.

Antes de Jesus, o judaísmo criou a expectativa de que o Ungido de Deus se manifestaria como um grande conquistador, o libertador final – uma encarnação melhorada e glorificada de Moisés, e como um profeta mais exuberante do que Elias.

Nessas duas percepções – grega e judaica – Jesus de Nazaré mostrou-se um fracasso. Nem o absolutamente perfeito da filosofia, nem o supermessias.

Jesus causava horror: se o Deus dos fariseus zelava pela lei, ele insistia que os mandamentos podem ser flexibilizados pela misericórdia. A mulher apanhada no próprio ato do adultério experimentou a força de um amor capaz de vergar a rígida lei. A mulher siro-fenícia, o centurião romano, a senhora impura que padecia com uma hemorragia crônica, o endemoninhado que vivia em sepulcros, o cego da calçada, todos provaram que qualquer um pode aproximar-se de Deus sem intermediação sacerdotal e sem depender do cumprimento da lei.  

O Nazareno acolheu os não-eleitos. Ele democratizou, universalizou, a pretensão de qualquer pessoa achar-se escolhida. Para ele, ninguém foi providencialmente preterido. A graça banalizou a predestinação.

Jesus não amedrontava os ouvintes apresentando um Deus que persegue rebeldes. Pelo contrário, o Deus de Jesus é Pai ferido que espera o filho que saiu de casa. Mais que isso: Deus corre (é lindo isso!) ao encontro do filho arrependido. E mesmo se o filho cheirar como um porco, ele o cobre de beijos.

Ricardo Peter intuiu corretamente o porquê do ódio dos fariseus contra Jesus:
Os fariseus começaram a perceber que Jesus estava mudando radicalmente a maneira de entender quem é Deus. Este Deus teria podido provocar confusão e dispersão entre as pessoas religiosas. O comportamento do Deus anunciado por Jesus, do Deus que demonstra um amor incondicionado pelos pecadores, começava a colocar o Deus dos fariseus na sombra. Tinha início uma luta de ‘Deus contra Deus’.

Os religiosos contemporâneos de Jesus queriam que Deus excedesse o poder de Baal. Jesus se mostrava o oposto de uma divindade territorial e melindrosa. Ele era o salvador despido da arrogância. As pessoas aguardavam um líder que reunisse milícias mais arrasadoras do que as legiões romanas. Jesus, todavia, pegava crianças no colo enquanto ensinava que o Reino pertence a elas. Os pobres nacionalistas ambicionavam levar Israel à liderança do mundo para depois vingar os vários séculos de opressão. Jesus, contudo, abria o rolo da lei para citar as palavras do profeta: O Espírito do Senhor está sobre mim e ele me ungiu para pregar boas notícias aos pobres.

Assim, tomados de indignação, os religiosos conspiraram para matá-lo. – Se Jesus era a expressa imagem de Deus, merecia ser eliminado. Um Deus frágil não serve aos interesses da religião – qualquer uma.
No Carpinteiro amigo de Maria Madalena, a Divindade não se mostrou indiferente. O Emanuel, o Deus conosco, se moveu de viscerais afetos por uma viúva que enterrava o filho e chorou diante da sepultura do amigo. A dor humana dói em Deus. Isaías (63.9) antecipou a aflição de Deus ao dizer: Em toda a angústia deles, foi ele angustiado.

Ricardo Peter, com sua intuição sobre a revelação de Deus que Jesus brindou o mundo afirmou:
O Deus de Jesus assume o humano a tal ponto que liberta o homem da exigência de ser como Deus. Deus contém em si, agora o máximo de humanidade. Deus encontra-se imerso no humano. O ‘Reino’ de Jesus não requer seres excepcionais, melhores que o ‘resto dos homens’, que se preocupam em ser por eles contaminados.

Jesus incomoda sobremaneira os religiosos por mostrar que Deus é amor; e este amor relativiza qualquer dogmatismo. Nele as exigências e os ritos perdem força. Os conceitos milenares de um Deus inabalável e severo precisam ser jogados fora depois que se conhece o Bom Pastor.
Os que não distinguem entre o Deus grego ou fariseu e o Deus que Jesus encarnou têm razão em decretar a sua morte. A expressão Deus está morto não passa de um grito ressentido de gente que se defrontou com a noção errada de Deus; a divindade anunciada como um déspota obcecado pelo poder, realmente, precisa ser sepultada.

O Reino que Jesus de Nazaré revelou não tem paralelo com os reinos humanos. Sua proposta de vida continua despercebida dos poderosos, pois acontece entre pequeninos e no meio de desprezíveis: grãos de mostarda, ovelhas indefesas, pessoas ineficientes, servos inúteis, pecadores indignos, prostitutas, leprosos, cegos, mendigos, estrangeiros, exorcistas informais.

Deus escolheu esvaziar-se para revelar-se no Filho, Jesus Cristo. Todas as outras divindades merecem ser descartadas como ídolos.




A Deus toda a glória!


Carlos R. Silva
inverno 2013


Compilação do texto Jesus: a negação do ídolo, a afirmação de Deus de Ricardo Gondim. 

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