sexta-feira, 23 de maio de 2014

No deserto

Passar pelo deserto é necessário para que se aprenda a deixar para trás a mentalidade de escravo e se passe a compreender a liberdade para a qual Cristo nos chamou.

Não é regra, mas quase sempre, após o sim para Deus, Ele nos conduz ao deserto.
Em toda a nossa existência, torna-se uma prática atravessar desertos. Que ninguém se engane com promessas de um mar de rosas e um mundo perfeito. Não nesta vida! Com certeza, e aguardada com dores de parto, somente no novo céu e nova terra, após a tão aguardada restauração da criação. Pois o Deus que tudo criou tem poder para recriar.

Mas veja, é no deserto que somos sacudidos e obrigados a refletir sobre as nossas ilusões, expectativas que nos alienam, nos afastam, inclusive, de quem amamos; também enxergamos os medos que mascaramos e dissolvemos em nossa busca frenética por realização e diversão.

No deserto o caminho não é claro, nem seguro, sol escaldante durante o dia e frio imenso à noite. Nenhuma distração, nada que seja atraente. Nele, o futuro é incerto, nos descobrimos vulneráveis, fragilizados e expostos aos nossos temores mais vis.

Mas deserto é lugar de encontro com Deus, de rendição do orgulho e da ilusão de sermos senhores do nosso destino. É o lugar da companhia divina, do silêncio que fala e onde o aquietar-se permite perceber a presença dEle.

O silêncio, nos torna mais sensíveis e atenciosos à voz de Deus.

É assim para todo o que quer andar com Ele. Para sermos livres precisamos nos afastar do mundo dos homens para entrarmos, a sós, no mundo de Deus. Um tempo no qual paixões, pressa, tensões, incertezas, vão, lentamente, cedendo espaço para percebermos o valor das coisas.

No deserto reduzimos nossas necessidades àquilo que é essencial. Afinal, muitas coisas não servirão para exatamente nada no deserto. O deserto traz uma outra dimensão das nossas reais necessidades.

Na solidão do deserto, descobrimos a suficiência da graça de Deus.

Aliás, Deus é a nossa necessidade primeira. De tudo que aprendemos no deserto, o mais importante é que, aquilo que mais necessitamos encontramos na comunhão com Deus. Ele, na verdade, será nossa única companhia durante a travessia.

A experiência deste atravessar conduz ao esvaziamento de nós mesmos, ao desapego dos ídolos que oferecem falsa segurança e à completa submissão à Deus e à sua vontade. Chega-se, durante os delírios ou nas tempestades de areia, a prometer, comprometer-se, arrepender-se.

É no deserto que aprendemos, ou reaprendemos, a ver a vida com a perspectiva da eternidade, ajudando-nos a colocar em ordem nossa lista de valores.

A verdadeira liberdade nasce no deserto. Foi no deserto que Jesus reafirmou sua identidade em obediência ao Pai. Não precisou de nenhum artifício para promover-se, nem utilizou-se de atalhos.

É aqui que nos libertamos dos falsos deuses, das mentiras e ilusões que nos fazem pessoas controladoras e manipuladoras.

O deserto rompe com a falsa sensação de que controlamos nosso destino e mostra-nos o quanto somos dependentes.

Finalmente, o deserto nos torna mais verdadeiros, amáveis, pacientes, livres e conscientes de nossa total dependência de Deus.


A Deus toda a glória!

Carlos R. Silva
outono  2014

Referências:
• Compilação do artigo:
   Ricardo B. Souza, O deserto e a liberdade. A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja

sábado, 3 de maio de 2014

A quem muito se perdoou

Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama.
Lucas 7:47

O tamanho do meu amor por Deus está relacionado diretamente à quantidade de pecados meus que ele perdoou.
Aquele que mais tem consciência do perdão recebido, esse é mais grato e amoroso. Trata-se de um fato da vida e acontece em pessoas de coração tratado e sadio.

Jesus foi convidado por Simão, um fariseu, para uma refeição em sua casa.
Jantar é uma ocasião apropriada para travar contato social - oferece-se algo, honra-se alguém, introduz-se alguém em nossa casa. Mas a relação de jantar não deixa de exibir certa formalidade - o convidado dificilmente passa da sala de visitas para a intimidade da casa, a conversa se desenrola agradável, evitam-se temas polêmicos. É um relacionamento ao redor de uma mesa, onde a comunicação através do olhar é forte e, assim como a mesa esconde o corpo, também a relação fica a nível de cabeça, da cintura para cima.

Lá estavam os convidados à mesa, que geralmente era em forma de um U, com o anfitrião e o principal convidado ao centro.

De repente, um fato embaraçoso, não para Jesus, mas para Simão, o anfitrião, que deflagrou, inclusive, a real intenção dele ao fazer o convite: uma mulher, ‘pecadora’, invadiu a festa, trouxe um vaso de perfume e colocou-se aos pés de Jesus. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume.
Nessas ocasiões, as mulheres eram excluídas dos salões. Portanto, a entrada de uma dama naquele recinto, mesmo sendo de alta reputação, chocaria fortemente a todos; mais ainda, se fosse ela conhecida por seus maus costumes. Foi o que se passou.

Para alguém que havia provado o vazio e a mentira do pecado, sua alma agora ansiava uma oportunidade para mudar de vida, mas as circunstâncias a impediam de realizar esse intento. Por fraqueza, por descuido, ou o que quer que tenha sido, ela caíra naqueles horrores. Mas, em seu coração, parece que guardava uma grande admiração pela virtude e — por incrível que pareça — em especial pela pureza. Sua sensibilidade física a arrastava aos enganos da carne e, portanto, à ofensa grave a Deus, mas a espiritual a convidava à paz de consciência, à mudança de vida e ao amor a Deus.

No auge desse dilema, certamente implorou várias vezes socorro ao Céu, mas também ouviu falar do surgimento de um grande profeta em Israel: os paralíticos andavam, os cegos enxergavam, os surdos ouviam, os mudos falavam e até os mortos ressuscitavam. Afinal, deve ter pensado ela, chegara o remédio para todos os males que atormentavam seu espírito tão carregado de recriminadoras aflições. Possivelmente não via a hora em que pudesse sentir-se purificada de suas manchas. Por debaixo de toda aquela lama havia uma alma que ardia de anseios por limpeza, por purificação.

As primeiríssimas reações de sua alma em relação a Jesus foram da mais entranhada simpatia. Ela O amou mais do que a si própria e ansiava pela oportunidade de se aproximar dele. Assim, “quando soube que estava à mesa em casa do fariseu”, decidiu enfrentar os rigores sociais e entrar na sala da ceia. Para chegar onde estava o Mestre, deu a volta pelo lado externo da mesa e “colocando-se a seus pés, por detrás dele, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-os com os cabelos da sua cabeça, beijava-os, e os ungia com o perfume”, que trouxera num frasco de alabastro.

Antes, por seu desejo, andava a atrair a atenção de todos para si, agora, se ajoelha para servir. Os olhos com os quais ofendera a Deus, agora choravam de dor, de arrependimento, de gratidão. Seus cabelos, outrora vaidosamente penteados, ela os utilizava nesse momento como fino linho para enxugar os pés do Senhor. Os lábios que tanto proferiram palavras de insensatez consagravam-se em beijar os pés divinos. Por fim, elevava à categoria de instrumento de louvor o perfume usado em outras eras para aguçar sua vaidade.

Ela não se apresenta na mesa, vai por trás, vai aos pés, se humilha porque reconhece com o coração toda a grandeza de Jesus e provavelmente, não queria interferir nem interromper o banquete. Vai à base, os pés, chega de mansinho. Chega em lágrimas porque, neste momento, o relacionamento é mais de sensações e não de palavras - é de comoção intensa. Os místicos antigos falam do "batismo de lágrimas", significando a capacidade regeneradora que o Espírito Santo dá de chorar a partir da alma na presença de Jesus. Quem age neste estado não conversa, simplesmente ama. É quando consigo orar e me relacionar com Jesus na forma de silêncio e lágrimas, derramando profundos afetos perfumados na sua presença.

O fariseu não ficou muito à vontade com tantas demonstrações vindas de alguém, a seu ver, tão indigna. Parece que estas manifestações de afeto e gratidão, sufocadas pelo treino em obedecer a leis, não deveriam irromper. Pare ele, "ser profeta" significava julgar, condenar e afastar o impuro. 

E como somos críticos com essa afetividade que irrompe, tanto a nossa como a dos outros. Nossa religião não deixa espaços para relacionamentos profundos com cheiros e lágrimas, quer apenas comunhão social da mesma.

A cena para Simão era um escândalo. “Se este fosse profeta, com certeza saberia de que espécie é a mulher que O toca: uma pecadora”. Seu juízo é apressado e infundado.

Assim como não teve fé e amor para alegrar-se e apreciar o Mestre, faltou-lhe também o discernimento para, na ex-pecadora, ver e interpretar os sinais de um arrependimento perfeito, pois são notórios os efeitos do vício ou da virtude se estampados face. 

O orgulho do rigoroso e sábio legista levou-o a uma conclusão aparentemente lógica, mas na realidade precipitada. Além do mais, manifestou sua falsidade, pois, se concebeu no seu interior a convicção de estar diante de um homem comum e aguardou sua saída para provavelmente comentar com satisfação o aparente horror daquele escândalo, por que chamá-lo de Mestre? 

Além da falta de senso ou virtude para perceber na pecadora o dilúvio de graça que a alcançou, faltava ao fariseu humildade e fé para ver em Jesus o Filho de Deus.

Entretanto, a prova de quanto Jesus é profeta foi dada a Simão logo a seguir, no estilo tão apreciado naqueles tempos, através da parábola dos dois devedores. 
Dois réus. Ambos haviam ofendido a Deus em graus diferentes e necessitavam, portanto, do perdão. Qual deles ficou mais grato? Qual deles amou mais o seu Senhor?
"Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior", responde Simão. Dedução correta, lhe diz Jesus.

Mas por que, alguém com um julgamento tão correto, não põe em prática o que na teoria lhe é tão simples e familiar? Como alguém que procurava observar 613 mandamentos, que ao andar evitava andar em linha reta para não parecer orgulhoso, se esquece de ser solidário e de honrar um convidado importante, um mestre?

“Vê esta mulher? Entrei em sua casa, mas você não me deu água para lavar os pés; ela, porém, molhou os meus pés com as suas lágrimas e os enxugou com os seus cabelos.
Você não me saudou com um beijo, mas esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar os meus pés.
Você não ungiu a minha cabeça com óleo, mas ela derramou perfume nos meus pés. Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe foram perdoados, pelo que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama".
Então Jesus disse a ela: "Seus pecados estão perdoados".

A pecadora estava tomada por um arrependimento perfeito e foram-lhe “perdoados os seus muitos pecados, por isso muito amou”. Quanto ao fariseu, o Senhor lhe mostra sua disposição em perdoá-lo, mas seria necessário, da parte dele, fé e mais amor. Era indispensável ao fariseu reconhecer seu débito para com Deus e pedir-lhe perdão, mas ele assim não procedeu, por ser orgulhoso.

Jesus sabe lidar com nosso lado racional, ele sempre tem algo a dizer para ele. Será que nós o escutamos? Parábolas são histórias para que a razão e a emoção entendam e acolham a mensagem da graça.

Nosso culto só com o "lado Simão" é insuficiente porque ele não se doa a Jesus com todo nosso ser. Não mexe com o corpo e com a emoção. É nosso lado perdido, nosso lado pecador que pode prestar o culto mais profundo que envolve o corpo todo.
É este encontro que atinge o nosso íntimo, que faz com que recebamos o seu perdão em todo nosso ser. Só a imersão completa na presença do Senhor permite que meu ser seja tocado na intimidade, permite que se vejam e sejam tratados os meandros e todos os cantos escuros do meu ser.

Quem é este Jesus, que lida de um jeito tão amoroso com o nosso lado perdido? É sua ternura para conosco que faz com que nossa alma queira se aproximar cada vez mais. "Nós o amamos porque ele nos amou primeiro." (1 Jo 4:19)

Quando todo o meu ser se permite ser tocado por Jesus há paz. A mulher "vai em paz", recebeu alimento de Jesus. Nada é dito de Simão, o fariseu neste final. É uma pena se ele se contentou em só dar de comer a Jesus, sem captar o alimento para a alma que sua presença irradia. Isto é típico do que se torna religioso e só pensa no "fazer". É meu lado perdido que consegue dizer: "Tem misericórdia de mim, pecador" e então ouvir: "Vai em paz".

Por fim, a pecadora é oficial e publicamente perdoada; quanto ao fariseu, na melhor das hipóteses — se chegasse a arrepender-se e vencer seu orgulho — caberia, talvez, o decreto do Senhor: “os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus” (Mt 21:31).


A Deus toda a glória!


Carlos R. Silva
Outono 2014



Referências:

· Bíblia Sagrada:
   Lucas 7:36-50, 1 João 4:19, Mateus 21:31

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Genealogia de Jesus - a linhagem de um Deus

1 Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
2 Abraão gerou a Isaque; e Isaque gerou a Jacó; e Jacó gerou a Judá e a seus irmãos;
3 E Judá gerou, de Tamar, a Perez e a Zerá; e Perez gerou a Esrom; e Esrom gerou a Arão;
4 E Arão gerou a Aminadabe; e Aminadabe gerou a Naassom; e Naassom gerou a Salmom;
5 E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé;
6 E Jessé gerou ao rei Davi; e o rei Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias.
7 E Salomão gerou a Roboão; e Roboão gerou a Abias; e Abias gerou a Asa;
8 E Asa gerou a Josafá; e Josafá gerou a Jorão; e Jorão gerou a Uzias;
9 E Uzias gerou a Jotão; e Jotão gerou a Acaz; e Acaz gerou a Ezequias;
10 E Ezequias gerou a Manassés; e Manassés gerou a Amom; e Amom gerou a Josias;
11 E Josias gerou a Jeconias e a seus irmãos na deportação para babilônia.
12 E, depois da deportação para a babilônia, Jeconias gerou a Salatiel; e Salatiel gerou a Zorobabel;
13 E Zorobabel gerou a Abiúde; e Abiúde gerou a Eliaquim; e Eliaquim gerou a Azor;
14 E Azor gerou a Sadoque; e Sadoque gerou a Aquim; e Aquim gerou a Eliúde;
15E Eliúde gerou a Eleazar; e Eleazar gerou a Matã; e Matã gerou a Jacó;
16 E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu JESUS, que se chama o Cristo.
17 De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e desde Davi até a deportação para a babilônia, catorze gerações; e desde a deportação para a babilônia até Cristo, catorze gerações.
Mt 1:1-17


Sempre que relia os evangelhos, passava por estes 17 versículos iniciais do relato de Mateus sem me deter muito. Apenas constatava algumas informações, as quais já vinham da leitura do Antigo Testamento e passava em seguida para outros pontos, até então mais importantes, no meu ponto de vista.
Mas, num olhar mais atento, o que é que esta lista de nomes tem e em quê pode influenciar na minha devoção? O quê pode ser acrescentado à nossa fé quando lemos estes nomes e os associamos às personagens e suas histórias relatadas por toda a Bíblia?

Tem sido um desafio ao longo dos anos aprender, ou reaprender em alguns casos, buscar significado e entender, todos os dias, a pessoa de Jesus e seu ministério.
Quem foi este, que provocou tanto impacto na história humana e que a dividiu em duas eras: A.C. e D.C.?
Quem foi este homem, de Nazaré, uma cidade pobre da Galiléia, que modificou o mundo e o colocou de ponta cabeça?
Quem foi este que trouxe uma mensagem tão revolucionária?
Quem foi este que depois de 2014 anos, com todos os avanços tecnológicos e descobertas nos diversos campos do conhecimento humano, ainda estamos aqui falando dele, aplicando seus princípios e transformando vidas através dos seus ensinos?
Jesus Cristo. O filho de Maria, filho de Davi, o verbo que se fez carne e habitou entre nós.
Una-se a nós neste grande empreendimento, como se fora um projeto de vida, o falar, meditar e pensar na pessoa de Jesus Cristo, a inspiração maior do nosso viver.
Ninguém que tenha tido contato com Jesus pode permanecer como era, não pode permanecer os mesmos.
Vamos dissertar um pouco sobre sua linhagem e de que forma o conhecimento dela pode influenciar nossas vidas, quebrar alguns tabus e aperfeiçoar alguns processos pelos quais podemos estar passando.

Algumas perguntas que já ouvimos ou já fizemos:

Porque as pessoas são como são?
Porque as pessoas se comportam de modos tão variados?
Porque, às vezes, as pessoas são tão esquisitas?

Todos fazem estas perguntas os que têm fé e até os que não professam fé nenhuma.
Possíveis respostas

1. Alguns dizem que é genética e hereditário, coisa herdada. Está no sangue.
2. Outros afirmam que o comportamento humano é influência do ambiente em que se vive, onde se nasce e é criado. É fruto dos relacionamentos. Pai, mãe, avós, parentes. Tudo isso pode trazer para o coração e para a personalidade de um filho muitas influências.
3. Por último, afirma-se ser o trabalho a força orientadora das relações humanas. A grande força da sociedade seria o dinheiro, as relações econômicas, a produção. De suas afirmações pode-se deduzir que se você nasceu num ambiente pobre, sem condições, sem saneamento, sem segurança, sua única saída seria tornar-se violento, amargurado, criminoso. Sua salvação seria educação, saneamento, boa alimentação.

Todas estas respostas têm suas verdades.
No entanto, estas teorias estão longe de explicar completamente o que acontece no coração humano e o que determina o seu comportamento.
Por quê? Porque é possível encontrar pessoas que tiveram pais doentes, péssimos exemplos em tudo e ainda assim isto não ter afetado seu coração, seu caráter e personalidade.
Frequentemente você observa pessoas que quebram estes padrões.
O contrário também é verdade. Pessoas que cresceram em lares sadios, bem estruturados e de repente revelam-se seres humanos do pior tipo.
Você encontra pessoas vivendo em lugares luxuosos, com todas as condições a seu favor e que, no entanto, são criminosos, ladrões, mentirosos e um monte de outras coisas mais.
É verdade também que você encontra pessoas que moram nos lugares mais humildes que se possam imaginar, casas de chão batido, mas são pessoas cheias de virtude, amor, que transformam as nossas vidas quando em contato com elas. Humanos, misericordiosos, bondosos e, muitas vezes, de uma fé inabalável.
A genealogia de Jesus

Pouca gente vem de uma linhagem onde seus parentes foram tão complicados como os de Jesus.
Poucos tiveram parentes tão complicados, tão doentes, tão esquisitos como Jesus.
É claro que entre eles estão gente cujos exemplos de fé, coragem e determinação mereceram entrar para a história do povo de Deus.
Por que Deus em sua soberania, teria planejado que as coisas acontecessem assim?
Estaria ele apontando-nos verdades que às vezes passam desapercebidas?
Se dependesse das teorias que explicam o comportamento humano, Jesus jamais seria o que ele foi: santo, santo, santo!

O escritor aos Hebreus revelou de maneira grandiosa a intenção de Deus:

Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão.
Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.
Hb 4:14-15


Ele, tendo experimentado o sofrimento, a tentação, a dor, compreende-nos completamente.
Então cabe-nos olhar mais atentamente para essa gente de onde ele foi gerado.

Na lista encontramos Tamar, que engravida do seu sogro, Mt. 1.3, atropelando os planos para uma descendência moralmente correta.
Raabe, que era prostituta, está entre os nomes. Mt. 1.5. Sua coragem, seu testemunho e a forma como ajudou o povo de Deus a tornaram digna de figurar na galeria dos heróis da fé em Hebreus 11.
Rei Acaz, Mt. 1.9, um dos piores reis de Israel: idólatra, praticante de cultos pagãos, onde queimou em sacrifícios filhos seus e descendentes de seus súditos.

Por outro lado, a lista traz gente confiável, de caráter e grande fé.
Abraão – o amigo de Deus, homem de fé inabalável.
Davi – um homem segundo o coração de Deus. Um exemplo clássico da nossa humanidade, de homem natural experimentando o viver vitorioso, de muitas glórias, mas também o pecado e, graças a Deus, o arrependimento.
José – o marido de Maria – um homem justo, Mt. 1:19, e obediente Mt. 1:24.

Nos dias atuais em função da forma como o evangelho tem sido apresentado a muitos cristãos, alguns diriam que Maria teria que quebrar diversas maldições para que o seu filho fosse bem sucedido, para que ele fosse uma bênção.
Mas ela não faz isso. Ela coloca-se como um instrumento de Deus para que a vontade dele se cumprisse. Maria conhecia o Senhor. Conhecia e cultivava a esperança do Messias, a salvação de Israel.

Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.
Lc 1:38


Todos estes nomes apontam para gente comum, gente parecida conosco, pecadores.
A maioria mereceu destaque na galeria dos heróis da fé, e curiosamente lá, são destacadas as suas virtudes, não são mencionados os seus pecados! Por quê? 

Porque seus pecados foram perdoados de acordo com a palavra do próprio Deus:

Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro.
Is. 43:25
 

Ao lermos a genealogia de Jesus percebemos algumas coisas que, numa primeira leitura, são semelhantes à vida de qualquer um de nós:

- A vida é muito curta e não deve ser desperdiçada;
- Tudo passa;
- Todos nós somos pecadores;
- Em Cristo sempre há um final feliz;
- Deus, realmente, não faz acepção de pessoas;
- Deus usa celebridades e também anônimos para executar sua vontade;
- Deus é fiel para cumprir o que promete;
- No final, tudo vai dar certo;
- Jesus é a esperança da humanidade. Mais uma vez o vemos como exemplo. Ele vem de famílias imperfeitas, mas, isso não foi determinante para que ele não pudesse ser santo, irrepreensível e sem pecado.

Talvez você carregue estes fardos terríveis de herança genética recebida, por causa do ambiente em que você cresceu ou da forma como você foi ensinado a vida toda.
Talvez já tenha ouvido de que você vive a herança deixada por seus pais, seus avós, gente que te gerou.
E você pode estar vivendo com medo de que um dia a situação, a doença aflore e venha à tona.
Eu preciso te dizer:
- Olhe para Jesus!
- Se Jesus com esta lista de gente na sua linhagem pôde manter-se integro, santo e irrepreensível, você também pode.

Não importa qual seja o passado dos seus parentes, se você hoje disser: - eis aqui o teu servo, eis aqui a tua serva! Faça-se em mim conforme a tua vontade. O poder que há no nome de Jesus, o poder que há no sangue do Senhor Jesus pode te libertar, pode te lavar de todos os comportamentos, de tudo o que poderia influenciar sua vida, de tudo o que poderia azedar o seu coração.

O apóstolo Pedro traz à nossa memória:
Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais,
Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado,
1 Pe 1:18-19


Todo o que tem um encontro com Cristo, não permanece o mesmo:
Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.
2 Co 5:17


Existe sim a carga genética, somos semelhantes em aspecto, fisionomia, até no gosto pelas coisas, à nossa mãe, ao nosso pai.

Cargas psicológicas existem sim, existe memória do que passou, do que se viveu do que passamos quando crianças, quando moços.
Mas você não está fadado a conviver com um passado condenável, a conviver com a ideia do fracasso e nem temer que doenças de qualquer tipo de repente apareçam.
Também não é necessário ficar quebrando maldições, preocupado com o que pode acontecer, olhando para trás para ver onde o problema começou.

Em que pensar? O que buscar?
Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.
Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra;
Cl 3:1-2


Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.
Fp 4:8

A Deus toda a glória!

Carlos R. Silva
outono 2014

terça-feira, 29 de abril de 2014

Fé estimulada

Então respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã.  Mt. 15:28

É linda a diversidade de formas como Jesus operava, como ele agia.
Em um momento, ao se deparar com um cego de nascença, ele faz lodo com a própria saliva, passa nos olhos do cego e manda-o que vá lavar-se. Ele vai e fica curado.
Noutra oportunidade, atende ao clamor de dez leprosos, sem nem chegar próximo deles. Libera-lhes apenas uma palavra: - Vão mostrar-se aos sacerdotes. E indo, pelo caminho, ficaram sãos.
Mas, é intrigante o texto de hoje, em Mateus 15:21-28, porque parece que Jesus está contrariando sua maneira de agir. Num primeiro e segundo momentos, não vemos nele nenhuma demonstração de misericórdia. Ele parece demonstrar um apego à tradição ou à missão para a qual o Messias teria vindo, atendendo e direcionando-se apenas para um povo específico.

Nosso desafio hoje é entender o porquê de recebemos de Deus, por diversas vezes, o silêncio.

Vamos tentar entender ainda que nem sempre os silêncios de Deus significam um não de sua parte em atendimento às nossas orações.


O silêncio de Deus

No relato de Mateus, Jesus vem de debates e enfrentamento com um grupo de fariseus, relatado no início do capítulo e ele sai dali e vai para uma região distante 40 km aproximados, pois não era tempo ainda de ser conhecido como o Messias que havia de vir, nem como o rei dos judeus.
Também parece que diante da rejeição dos fanáticos de sua gente ele decide mudar de ares, ver outra gente. Por causa de tal rejeição a oportunidade de chegar-se ao Rei celestial estende-se aos gentios.

Aproxima-se dele uma estrangeira, clamando por sua filha que estava atormentada por espíritos maus, por demônios. Esta certamente conhecia-o, e teria, pelo menos, ouvido falar dele, tanto que ela dirige-se a ele pela honrosa e merecida menção de Senhor, Filho de Davi.
Jesus sequer lhe dirige a palavra. Talvez ele desse ares de nem tê-la notado.
Ela insiste, não uma, mas várias vezes e, num tom espalhafatoso. Chega a ponto de os seus discípulos implorarem a ele que a despedisse, que a mandasse embora.

Jesus, dirigindo-se aos discípulos, ressalta que não viera para estrangeiros, mas foi enviado para restaurar os perdidos de Israel, foi enviado para os seus.

A mulher vem até ele, prostra-se, adora-o e grita: - Senhor socorre-me!

Só então Jesus dirige-se a ela, mas não para ajuda-la, continua a provocar-lhe, se se pode subentender assim. 
– Não é certo tirar o pão dos filhos e lança-lo aos cachorrinhos. Ele diz.
- Mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Ela diz.

Aquilo desmontou o Senhor. Não havia mais argumentos, bastava!

Jesus elogia lhe a fé e decreta que fosse feito conforme o desejo dela. Na mesma hora sua filha foi curada.

É constrangedor o lidarmos com o silêncio de Deus.
Num ímpeto, num primeiro momento, geralmente tratamos como negativas da parte do Senhor em nos atender.
A forma como Jesus agiu ao pedido desta mulher pode apontar, nos dar pistas, de como Deus muitas vezes trata conosco.


Na ausência de respostas, não desista

O fato de não termos respostas, significa apenas que Deus não atendeu ainda, mas não necessariamente que ele não vá atender.
Diante da negativa de Jesus a mulher continuou a pedir, a implorar, a gritar por socorro.

Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta.
Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta.
Mt 7:7-8

Foram as palavras do próprio Jesus em seu sermão numa montanha da Palestina.


As negativas de Jesus buscavam provocar fé

Às vezes, a forma como Jesus age, tende a ser exclusivamente para provocar fé. É como se ele estivesse nos experimentando para ver até onde nossa fé alcança.
A escassez pela qual você pode estar passando, as dúvidas que tão prontamente inundam a tua devoção, a vida que, num instante, parece não estar produzindo fruto nenhum. Tudo isso, todas essas dificuldades, todo o sofrimento incompreendido, pode ser sim elemento estimulador da fé.

Não que Deus tenha prazer em nos ver sofrer, mas você sabe tanto quanto eu, que o que vem por dedicação, através de disciplina, por sacrifício, seja na esfera física ou na espiritual, nós valorizamos tremendamente mais.


Deus quer estimular fé em nós para trabalhar valores eternos

Deus não é um sádico, pelo contrário é um pai cego de amor por seus filhos. Não é tampouco um ente distante, imerso no plasma, no vazio para onde eu me dirijo, sem saber nem mesmo para onde olhar.
Não! Deus é uma pessoa, um pai que ouve as orações, os pedidos, as queixas. É um pai que se entristece, que se ira, mas que tem um longo ânimo, ou paciência como queiramos chamar.

Nossos pais carnais nos privam de certas coisas porque sabem, por experiência, ou por sabedoria, que elas poderão não nos fazer o bem que esperamos. Se determinadas coisas nos acontecem cedo demais, podemos ser ainda imaturos para utilizá-las, para usufruir devidamente.

E por que na esfera espiritual seria diferente? Por que não agiríamos com as coisas que vão produzir em nós efeitos para a eternidade com o mesmo entendimento?

O apóstolo Paulo diz que nenhuma disciplina é boa no início mas depois ela produz fruto pacífico de justiça aos que foram por ela atingidos. (Hb. 12:11)

Frutos pacíficos de justiça como misericórdia, bondade, paciência, amor e paz são alguns dos resultados que poderão ser alcançados no tempo certo.


Deus não despreza o coração quebrantado

O salmista Davi, exclama com propriedade que a um coração quebrantado e contrito Deus não despreza. (Sl. 51:17)
E ele viveu este perdão, esta acolhida do Senhor.

A mulher cananéia desmonta todas as objeções de Jesus, quando, transliterando, “acho que valemos um pouquinho mais do que um cachorrinho, e, veja bem, até eles comem das migalhas que caem da mesa do seu dono”. 
O pão caído da mesa, as migalhas, é o Cristo que os judeus, os filhos, rejeitaram e deixaram que caísse.

Que percepção teve esta mulher. Uma fé assim mereceu o elogio de Jesus. 
 
Um apelo, um chamado à fé

Não importa o que a vida te fez, não importa o que você está passando.
Confie no Senhor, tudo vai dar certo.
Há um final feliz para a sua história.
Sua história está apenas começando, sua vida aqui é só um pedacinho da sua existência. 

Você, nem eu, temos ideia do que nos espera na eternidade. Tudo parece muito nebuloso ainda.
Mas o Deus que não se esquece nem dos pardais, o Deus que sabe até quantos fios de cabelo tem em sua cabeça, certamente não esquecerá de você. (Lc. 12:6-7)

A Deus toda a Glória

Carlos R. Silva
outono 2014

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Não te esmagará nem te apagará

Não discutirá nem gritará; ninguém ouvirá sua voz nas ruas.
Não esmagará a cana quebrada, não apagará o pavio fumegante, ...”


Talvez o que mais atrai em Jesus é que ele não se impõe pela força. Não. Ele não empurra um conjunto de dogmas, preceitos e regulamentos guela abaixo.Em Jesus há uma maravilhosa e surpreendente forma de agir, que, muitas vezes, parte do inesperado e chega a atitudes inéditas para os do seu tempo. Especialmente aos apegados à religiosidade dominante.
O mesmo Jesus que dá ordens ao mar e aos ventos apresenta-se ternamente com a proposta de não se tornar um fardo pesado nem sobrecarregar com ensinamentos maçantes:
- Vinde a mim, os cansados e oprimidos e eu vos aliviarei.
- Tomem para vocês o meu jugo, ou seja, meus mandamentos, e aprendam de mim que sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso.

O mesmo Jesus que num momento contraria a lei, se bem que por um fim nobre, ao curar num sábado, sai, evita a discussão, não defende seus pontos de vista, para que se cumprisse o que fora dito sobre ele, sobre sua missão há 750 antes.
A profecia de Isaías, citada por Mateus, é oportuna para os nossos dias tão desgastantes, onde vivemos o massacre do urgente, a exigência do excelente, o engodo do moderno e a fé leviana e oportunista. Tudo o que nos consome, desgasta, fere e desanima.
- Não discutirá nem gritará; ninguém ouvirá sua voz nas ruas.

O coração do que resolver aceita-lo não será tomado à força. Sua voz é suave e doce. Ele pede, não ordena.
- Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.
Sem gritos, palavras de ordem, coisa calculada, artimanhas, nada!

Aos feridos pelas pressões da vida, dos amigos, da família ou da religiosidade ele afirma:
- Não esmagará a cana quebrada ...
O pequeno caniço, espécie de junco, quebra-se facilmente e para nada mais serve. Então é amassado e jogado ao rio.
Não com Jesus! A cana quebrada é por ele restaurada, tratada, transforma-se em instrumento de música para produzir louvor e adoração ao criador.
Há riso, alegria e música feliz na casa, na vida por ele tratada.

E para o que já não tem mais vigor, onde só resta um fio de esperança, onde só se produz fumaça e nenhuma luz ele promete:
- Não apagará o pavio que fumega, ...
Isso dá um novo alento, tão diferente das demais propostas que se ouvem por aí.

A situação pela qual você passa não é o fim, a última página da sua vida não foi escrita ainda, a noite em sua vida está para acabar, nenhum sofrimento vai durar eternamente.

Só o evangelho tem essa proposta. Só Jesus pode prometer essas coisas, pois somente ele, sendo Deus, tornou-se homem, um de nós, habitou aqui, experimentou sofrimento e desprezo, entregou a própria vida, mas, num diferencial que nenhum outro apresenta, ressuscitou e voltou ao céu prometendo que voltaria para nos levar para lá também.

A ressurreição é pura dinamite. Sem ela tudo o que ele fez e a forma com ele se doou não fariam sentido. Talvez ficasse esquecido no tempo. Mas, sobre isso falaremos outro dia.


A Deus toda a glória.

Carlos R. Silva
outono 2014

Referências:
·         Bíblia Sagrada
o   Mateus 8:26-27, 11:28-30, 12:18-21
o   Apocalipse 3:20