sábado, 13 de maio de 2017

Você pode viver sem Cristo

Passei da fase de entender que quem escolhe abdicar da fé “sofrerá” com isso. Os anos, os muitos relatos, o que muitos vivem ao meu redor confirmam que sim, podemos viver sem Cristo como Senhor de nossas vidas. Na falta do sofrimento real, podemos esconder debaixo dos nossos tapetes, tudo que nos cause o mínimo de desconforto existencial.

A realidade que me cerca mostra pessoas que nunca se distanciaram da fé, passando provas cruéis, enfrentando conflitos que lhes pedem uma resiliência imposta, porque por escolha, nós abandonamos mesmo, tudo que não venha a nos dar o que queremos ou precisamos. Em contrapartida, pessoas que abdicaram da fé por pouco, escolheram que felicidade e liberdade em nada combinam com o cristianismo, e tem provado suas teses diariamente.

Então você me perguntará se nós, que não jogamos tudo para cima, estamos perdendo algo? Não. A não ser que sua identidade como cristão não tenha firmado bem sua escolha e tudo que ela representa.

Cristo precisa ser uma necessidade primeira: antes da dor, antes da felicidade, antes de mim ou de você, antes de podermos provar, antes de fazer total sentido, antes de cosmovisões de ego, antes de qualquer coisa. Quando Cristo afirma “Pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma” (João 15. 5), Ele apenas nos lembra de que sempre estará acima do que decidimos para nossas vidas, seu sacrifício vicário foi feito e ponto. A partir daí, como eu ou você encaramos a necessidade de reconhecer isso, em nenhum momento da história altera a ordem dos fatos: Deus é Deus e Cristo morreu por todos, cabe a nós aceitarmos ou rejeitarmos isso.

Então, podemos viver sem Cristo, porque Ele mesmo nos deu essa possibilidade. Quando em seu corpo naquela cruz, tudo que absolutamente Ele não fez de errado, caiu sobre seus ombros, foi porque somente Ele poderia suportar tudo. Ele sendo Deus agoniza nossas muitas falhas, rasgando sua perfeição intransferível, numa escolha: negando poder nos deixar padecer, provando acima de tudo, que somente Ele poderia nos alcançar, todos, sem exceção, independente do que faríamos com seu sacrifício diante da nossa breve vida aqui.

Podemos rejeitar tudo, acordar acreditando que cada nuvem no céu se forma automaticamente num sistema de acaso sem dono, olhar nosso rosto no espelho e engrandecer nossa beleza, nossas roupas, nossas capacidades e achar nisso tudo a força suficiente para mais um dia. E como diz meu pai “se não chover, tudo para no mundo: plantações, fábricas, morremos de sede”, mas ainda assim a misericórdia de Deus nos permite achar que tanto faz, que no fundo somos os donos de tudo e tudo depende de nós.
A absurda complexidade da liberdade que Deus nos propõe me espanta. Por vezes eu perguntei a Ele, porque não nos fez comandáveis e o mundo seria bem melhor?! Mas daí lembro de João capitulo 17, e me arrepia sempre: Ele ora por nós. Nós que escolhemos matá-Lo todos os dias em nossa consciência, Ele se compadece por ficarmos em nossas dúvidas, por sermos tão insanos, e nos dá um voto eterno de confiança de que podemos levar o Reino adiante. E o nosso constrangimento maior pode nos quebrar, se ousarmos ouvir a mais uma prova de nossa insignificância, quando Ele diz: “Pai, Perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23.34).

Podemos escolher viver sem Cristo, porque não sabemos o que fazemos. Não sabemos do mal que permeia nossas entranhas, não sabemos do que somos capazes, não sabemos que matando Deus, Ele não morre. Não sabemos do futuro que nos espera, de qual parte da vida nos pedirá contas, não sabemos como nos caíra o luto do dia mal, não sabemos qual normalidade do dia a dia resultará em mais uma tragédia do dia a dia. Não sabemos que quando alcançarmos tudo que desejamos, teremos que procurar outro tudo para correr atrás. Não sabemos que se todos vivessem na sombra desse Cristo, já teríamos conseguido subir aos céus, diante da plenitude que como humanidade alcançaríamos.

Cristo em sua grandeza vive. Como um pai em sua grande casa, fez tudo por nós, mas mantém a porta aberta para escolhermos ir ou ficar. Sentado em sua poltrona Ele nos olha demonstrando o quanto gostaria que ficássemos, mas não nos impede, a cada vez que pegando nossas trouxas de certezas existenciais inúteis, o tratamos com desdém saindo pela porta.

Continuo na grande casa. Bato uma porta às vezes, emburrada como quem se acha no direito de reivindicar. Olho a porta aberta e em alguns momentos até começo a fazer a minha trouxa, e quando junto tudo o que tenho, percebo que nada há de certo ali, no que vem apenas de mim. São roupas rasgadas pela vida, manchas de temperamento e histórico. Por ser pouca coisa, chega a parecer leve, soa liberdade, fácil de carregar, mas de tão fácil, vira inútil, insonso. Posso ir, mas fazer o que? Por quem? O que tenho de meu, mal cobre as minhas questões de existência, eu poderia ajudar como na existência de outro?

Eu poderia viver sem Cristo, teria minha rotina, faria exercícios, sairia, da mesma forma que faço com a vida nEle. Eu poderia ousar dizer que quero ser feliz, e sendo feliz comprovaria minha sublime razão de existência. Logo, se o cristianismo me impede dessa minha felicidade, eu não preciso dele. Mas só em escrever isso, milhões de questões sobre o que considero felicidade abrem um leque que peneira social nenhuma pode afunilar. A minha felicidade não resolve nada, porque ela se prostitui ao menor interesse ou conveniência, quando eu não me coloco no meu devido lugar de ser nada, sem Cristo.

Você, eu, todos podemos viver sem Cristo. Depende do que entendemos como viver, a razão disso, a razão do mal que permeia um mundo que se acha tão bom, mas não se comprova. São umbigos e egos demais travando a briga por um reinado. Cristo nos oferece um reino pronto, com ideias a sua imagem e semelhança, onde custa ficar, mas ainda é mais garantido do que uma vida que finge não nos cobrar nada.

Certa vez, num ápice de descontentamento perguntei ao meu pai, qual a diferença da vida dele antes e depois de Cristo? Ele me respondeu: “agora eu não me sinto sozinho”. Cristo continua sendo a única certeza que tenho, minha trouxa sozinha é vergonhosa, não quero vagar por aí só com ela. O bom é que Cristo não se importa de quem queira voltar com a trouxa para casa, pois foi consumado, abrindo caminhos de volta guiados por um amor que nos mostra quem somos de verdade. Ele não impede que saiamos, mas continua insistindo que voltar é a melhor liberdade que podemos provar.


*Correções Textuais por Keise Cristine Luz:

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