sábado, 23 de fevereiro de 2013

O Poder que Desarma


A igreja levou muito tempo para aceitar a ignonímia (infâmia pública) da cruz. Apenas no século 4 a cruz realmente tornou-se símbolo da fé. (Os estudiosos observam que a crucificação só se tornou comum na arte depois da morte de todos os que haviam testemunhado uma crucificação real.)
Hoje, porém, o símbolo está em toda parte: os artistas moldam em ouro e outros metais este instrumento romano de execução, atletas fazem o sinal da cruz antes de uma performance. Por mais estranho que isso pareça, o cristianismo se tornou a religião da cruz – a forca, a cadeira elétrica, a câmara de gás, em termos modernos.
Normalmente, pensamos que alguém que morre como criminoso é um fracasso. Todavia, Paulo refletiria mais tarde acerca de Jesus, dizendo: “Tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz”. O que quis ele dizer com isso?
Em certo nível, penso em indivíduos de nosso tempo que desarmam os poderosos. Os xerifes racistas que trancafiaram Martin Luther King em celas de cadeia, os filipinos que assassinaram Benigno Aquino, as autoridades sul-africanas que prenderam Nelson Mandela – todos esses estavam resolvendo um problema e, no entanto, todos acabaram escancarando sua própria violência e injustiça. O poder moral pode exercer um efeito apaziguador.
Quando Jesus morreu, até um ríspido soldado romano foi levado a exclamar: “Verdadeiramente, este era o Filho de Deus!”. Ele viu o contraste com extrema clareza entre seus colegas embrutecidos e sua vítima, que, agonizando, os perdoou. A pálida figura pregada no travessão de uma cruz revelou que os poderes dominantes do mundo eram falsos deuses que descumpriam suas próprias promessas de piedade e justiça. A religião, não a irreligião, acusou Jesus; a lei, não a ausência da lei, o executou. Com seus julgamentos manipulados, seus açoites, sua violenta oposição a Jesus, as autoridades políticas e religiosas daquela época mostraram o que eram: promotoras do status quo, defensoras apenas de seu próprio poder. Cada ataque contra Jesus pôs a nu a ilegitimidade delas.
adaptado
O Jesus que eu nunca conheci
Philip Yancey – Sinais da Graça

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