quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Quando a dor nos visita

Não são poucas as vezes em que, na tentativa de atrair pessoas ao evangelho, utiliza-se o expediente de oferece-lo como a solução para problemas cotidianos, melhora de vida e fim do sofrimento.
As pessoas têm sido atraídas não para o Cristo, nem pelo que ele é. Nem tão pouco são atraídos por causa do maior e mais importante feito que alguém já fez por toda a humanidade: deu-se a si mesmo para que outros pudessem viver. “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:28).

Muitos são atraídos para Jesus pelo que ele pode dar, visando alguma coisa. São atraídos pensando no que podem “ganhar com isso!”.

O resultado? Desanimador! Cada dia mais pessoas decepcionadas, pessoas que compraram “bênçãos” ao invés de vida (gato por lebre?). Gente que apostou tudo num novo formato de vida e descobriu que, a cada dia, precisava de mais milagres, porque não foi ensinada a pescar. Ao invés disso, teve peixe e pão sempre que a fome apertou (pelo menos a promessa de ter).

O evangelho não promete nada disso. Jesus ao perceber que a multidão o seguia por causa do pão multiplicado, deixou claro que o verdadeiro alimento era ele. Que era necessário ter parte com ele, a verdadeira comida. E na sequência pronunciou um dos seus mais duros discursos, a ponto de muitos irem embora.

Algo que atormenta todas as pessoas, quer cristãos ou não, é a dor. O problema da dor, através dos séculos, continua sem resposta.

Não nos alegramos por ter uma dor de cabeça. Não nos alegramos por ter um câncer nos consumindo. Mas podemos nos alegrar com a presença de Deus no meio de nossa dor. É possível sentir paz mesmo em meio à enfermidade. O que precisamos entender, para que não nos decepcionemos quando a aflição nos atinge, é que nós devemos esperá-la! É parte de nosso chamado como cristãos. Deus nos chamou para um mundo caído, para ministrar em um mundo que é um rio de lágrimas. É um lugar de dor. Não estamos livres dele, vivemos nele.

As palavras de Jesus “Neste mundo vocês terão aflições;” (João 16:33) deixam isso claro, sem meias palavras.

Somos afligidos com sofrimento. Por quê? Por que somos afligidos? As razões podem ser várias.

Temos sido maus mordomos da vida. Péssimos administradores do tempo, não cuidamos da nossa saúde, não nos alimentamos corretamente, dormimos pouco, guardamos rancores, nos endividamos, nos isolamos das pessoas, negligenciamos o cuidado com os que dependem de nós e muitas outras coisas.

Pode ser que Deus precise nos corrigir, ele pode irar-se e, inclusive, nos adoecer ou abater. Ele faz isso! Há diversos exemplos nas Escrituras. Como Miriã contraiu lepra? (Números 12:9-10) Deus a afligiu com lepra, para trazê-la ao arrependimento. E o que Jesus estava dizendo aqui? “Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão". (Lucas 13:5).

Às vezes, nosso sofrimento pode ser porque Deus está nos corrigindo ou nos disciplinando. “Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Pois, qual o filho que não é disciplinado por seu pai?” (Hebreus 12:7).

É claro que não podemos concluir que todas as vezes que ficamos doentes, ou todas as vezes que sofremos, há uma correlação direta entre nossa desobediência e a dor que estamos experimentando. É um pensamento raso, a reflexão é mais profunda. Jó é uma prova que refuta esse argumento. Jó era mais justo do que qualquer um, e, ainda assim, sofreu mais do que qualquer um; e seria um terrível engano assumir que havia uma relação direta entre a sua culpa e a sua dor.

Então, nem sempre conhecemos o motivo! Exato, e não precisamos conhecer. O que precisamos conhecer é a Deus. Jó exigiu uma resposta para sua dor e pediu que Deus falasse com ele e lhe explicasse. Deus apareceu a Jó e o interrogou por um longo período. Que resposta Jó conseguiu de Deus? Nenhuma. Deus não lhe apresentou os motivos do sofrimento. A única resposta que Jó recebeu para sua aflição foi o próprio Deus. A presença de Deus. O que Deus estava dizendo era: “Jó, eu sou; estou com você; confie em mim”. Quando as pessoas dizem “confie em mim”, é hora de correr. Mas quando Deus diz “confie em mim”, faça isso.

Deus apresentou a Jó a sua soberania. Tudo o que precisamos muitas vezes não são respostas, mas convicções, ou seja, fé. E Jó, convencido pelo próprio Deus, o fez com maestria. Não posso deixar de abstrair dessa história: para nós é fácil, conhecemos os bastidores, temos o diálogo de Deus com satanás no início do livro. Jó não sabia de nada disso. E só posso concluir: Deus é maravilhoso, correu o risco, “apostou” no humano. Um Deus assim merece ser adorado, respeitado e amado.

Deus nunca prometeu a nenhum de nós que jamais iríamos ao vale da sombra da morte. O que ele nos prometeu foi que ele iria conosco.  “Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo;” (Salmos 23:4).

Nós temos o Bom Pastor. Temos sua presença, seu consolo, o que não significa que somos removidos da arena da dor, mas que somos sustentados na arena da dor.

A Deus toda a Glória!

Carlos R. Silva
verão 2015

Referências:

·         Carlos R. Silva, Reflexões.
·         R.C. Sproul. © 2014 Ligonier Ministries.
·         Bíblia de Estudo NVI, Vida.

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